segunda-feira, 30 de abril de 2012

CHUVA

Sentado na cabeça de um prédio, o pássaro espreita a cidade. Parece um farol a indagar o mar. Mas quando a chuva sai das nuvens, a solidão apodera-se do miradouro.

ESPINHO

suspiro e ergo as golas do casaco. na marginal de espinho, as sombras escondem delinquentes e prostitutas. mas os senhores do saber, de dentes afiados, levam os corpos para o areal, enquanto o mar chicoteia as costas das pedras.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

NARIZ

o naris é um tratante: está tão entupido que tive que lhe dar com o eucalipto nas trombas!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 DE ABRIL

Revolução dos Cravos refere-se a um período da história de Portugal resultante de um golpe de Estado militar, ocorrido a 25 de Abril de 1974, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, e que iniciou um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático, com a entrada em vigor da nova Constituição a 25 de Abril de 1976. Este golpe, normalmente conhecido pelos portugueses como 25 de Abril, foi conduzido por um movimento militar, o Movimento das Forças Armadas (MFA), composto por oficiais intermédios da hierarquia militar, na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial e que foram apoiados por oficiais milicianos, estudantes recrutados, muitos deles universitários. Este movimento nasceu por volta de 1973, baseado inicialmente em reivindicações corporativistas como a luta pelo prestígio das forças armadas, acabando por se estender ao regime político em vigor. Sem apoios militares, e com a adesão em massa da população ao golpe de estado, a resistência do regime foi praticamente inexistente, registando-se apenas quatro mortos em Lisboa pelas balas da DGS. Após o golpe foi criada a Junta de Salvação Nacional, responsável pela nomeação do Presidente da República, pelo programa do Governo Provisório e respectiva orgânica. Assim, a 15 de Maio de 1974 o General António de Spínola foi nomeado Presidente da República. O cargo de primeiro-ministro seria atribuido a Adelino da Palma Carlos. Seguiu-se um período de grande agitação social, política e militar conhecido como o PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado por manifestações, ocupações, governos provisórios, nacionalizações e confrontos militares, apenas terminado com o 25 de Novembro de 1975. Estabilizada a conjuntura política, prosseguiram os trabalhos da Assembleia Constituinte para a nova constituição democrática, que entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, o mesmo dia das primeiras eleições legislativas da nova República. Na sequência destes eventos foi instituído em Portugal um feriado nacional no dia 25 de Abril, denominado "Dia da Liberdade".

terça-feira, 24 de abril de 2012

Na cabeça daquele homem está um pássaro a picar os piolhos. O desgraçado, mudo, olha para o imprevisto e sorri. É um sorriso ligeiro, mas parece que cabe o mundo naquele gesto. Memorizo a dica e peço ao vento para espalhar aquela semente.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

há chuva. há vento. mas o sol, quente e macio, é uma quimera no meio do horizonte.

SUGESTÂO


Um livro não responde. Um livro pergunta. Qual é a pergunta? “Cada rosto, cada loja, cada janela de quarto, bar e praceta escura é uma imagem febrilmente virada – em busca de quê? É o mesmo com os livros. Que buscamos em milhões de páginas? Continuamos esperançosamente a voltar as páginas – oh, aqui está o quarto de Jacob.”

Jacob é o protagonista do terceiro romance de Virginia Woolf (1882-1941), o primeiro em que ela se liberta de uma narrativa mais linear. Sim, há uma história, mas não corre como um fio. Porque a vida de um homem não corre como um fio. Existe inteira num fragmento, não a conseguimos ver do princípio ao fim, atinge-nos por um instante, e depois escapa, já foi.

Ao terminar “O Quarto de Jacob”, no Verão de 1922, Virginia (Stephen em solteira, Woolf por casamento) escreveu no seu caderno de notas o verso em que o poeta romano Catulo se despede do irmão: “Atque in perpetuum, frater, ave atque vale” (“E para sempre, irmão, salve e adeus”*). Por baixo acrescentou: “Julian Thoby Stephen (1880-1906).”

Thoby era o irmão mais velho. Tinha (como Virginia e Vanessa) um rosto comprido, olhos claros, melancólicos, queixo e lábios proeminentes. Nas fotografias, parece belo (como Vanessa, e, por vezes, Virginia). O seu círculo de amigos em Cambridge foi um dos embriões do Bloombsbury Group.

No Verão de 1906, os quatro irmãos Stephen (o mais novo era Adrian) e uma amiga partem para uma longamente desejada viagem pela Grécia. Durante a estadia, Thoby apanha febre tifóide e morre pouco depois do regresso a Londres. Tinha 26 anos. “O Quarto de Jacob” é a saudação ao irmão que morreu. Uma vida, pontos intensos de luz.

Cambridge: “Dizem que o céu é o mesmo em toda a parte. Os viajantes, os náufragos, os exilados e os que estão a morrer reconfortam-se com esta ideia; e não há dúvida de que dessa superfície inviolada jorra consolo e até explicação para quem tenha tendências místicas. Mas sobre Cambridge – ou pelo menos sobre a capela de King's College – há uma diferença. No mar longínquo uma grande cidade projecta claridade para a noite. Será demais imaginar que pelas fendas da capela de King's College o céu penetrava mais leve, mais fino, mais espumoso do que o céu doutros lugares? Cambridge estará iluminada não só de noite mas também de dia?”

A Grécia: “[...] no dia seguinte o comboio deu lentamente a volta a uma colina em direcção a Olímpia e as camponesas gregas estavam no meio das vinhas; os velhos gregos estavam sentados nas estações a berrricar vinho doce. E Jacob, embora continuasse deprimido, nunca suspeitara quão tremendamente agradável é estar só; [...] Galopar destemperadamente; cair na areia esgotado; sentir a terra girar; sentir – positivamente – um ataque de amizade pelas pedras e relvas, como se a humanidade tivesse terminado; e quanto aos homens e mulheres, quero lá saber! – não podemos negar que este desejo se apossa de nós frequentemente.”

quinta-feira, 19 de abril de 2012

DIFERENÇA


Dentro do café, os homens olham para as unhas. Alguns também fumam. A empregada, de curvas salientes, está sentada nos barris de cerveja. Tem um rosto bonito e incomum, porque as sardas, com diâmetros exagerados, dão-lhe características peculiares. As íris, pintadas a azul-bebé, e as sobrancelhas, volumosas e eriçadas, ajudam a reforçar a estética da porcelana. Por detrás da parede de vidro, as nuvens, carregadas de humidade, escondem o azul do céu. A cidade, de regresso a casa, fica pardacenta e perde o perfume da Primavera. Daqui a pouco, as lâmpadas públicas irão acender os passos dos transeuntes. Levanto-me e vou até à caixa. A empregada, lentamente, move o corpo. Depois mexe nos botões da máquina registadora e diz-me: “Três euros e trinta”, “Na semana passada, para o mesmo consumo, paguei dois euros e pouco!”, “Faça queixa ao governo”, engulo a surpresa e tiro a carteira do casaco.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

ASSALTO


O frio encrespa-se. As pessoas, de golas erguidas, correm e escondem-se nas tocas das lojas, onde os valores dos saldos são expostos nas paredes. Mas as carteiras, desprovidas de essência, avisam-nas que o momento não está para gastos. Ficam tristes e fazem beiços carregados. As empregadas, de narizes metidos na coscuvilhice, observam-nas. Subitamente, no pronto-a-vestir, que fica ao pé da câmara, é assaltada. Os ladrões, homens de estrutura volumosa, descem a correr a Rua da Liberdade. Ao pé da estátua do rei mudam de direcção e desaparecem. Os arbustos são bons para isso. Pouco depois, o carro da GNR penetra nas perguntas dos velhos e pára a dois palmos da mulher que grita. O condutor, um albino sorridente, faz mover o vidro, “Onde estão?”, “Estão ali”, e os dedos da pobre histérica esburacam o sossego do parque, “Os bandidos não vão longe”, faz-lhe uma vénia e acelera. O carro, dos anos oitenta, seguramente, incendeia de vermelho os olhos das pessoas quando trava. Mas o mistério, em forma de bruma, apodera-se da máquina.

terça-feira, 17 de abril de 2012

SOL

chove, faz frio, mas sobre o promontório as nuvens são panos rotos. o sol, matreiro, pontapeia as fissuras e desce até ao topo da montanha.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

BIBLIOTECA

estou na biblioteca. do lado direito, está um miúdo a jogar às cartas no computador. por detrás dele está um mar de livros. e todos eles estão fechados. será que ele vai abrir algum?

quinta-feira, 12 de abril de 2012

SUGESTÃO


Joyce acabou de escrever Retrato do Artista quando Jovem em 1914, ano de publicação de Gentes de Dublin. A novela descreve a infância em Dublin de Stephen Dedalus e a sua busca de identidade. As diferentes fases da vida do protagonista, da infância à vida universitária, refletem-se em mudanças no estilo narrativo. Os aspetos biográficos são tratados com irónico distanciamento, num trajeto que culmina com a rutura com a Igreja e a descoberta de uma vocação artística. A obra é também um reconhecível auto-retrato da juventude de James Joyce, assim como uma homenagem universal à imaginação dos artistas.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

AVES

As aves voam em círculos em redol do beiral saliente de uma casa. O ar da tarde dos princípios de abril torna o seu voo nítido, os seus corpos escuros e palpitantes projecta-se, num nítido constraste, contra o céu, como se este fosse um pano pendurado.

terça-feira, 10 de abril de 2012

RUA


No meio da azáfama dos transeuntes, que bufam palavras incultas e gesticulam verdades imaculadas para os telemóveis, sinto os efeitos do calor. De olhos esbugalhados, limpo a testa e tiro o casaco. Depois arregaço as mangas da camisa até aos cotovelos e movo-me. Quero fugir deste sítio. Ao pé do sinal que me obriga a parar vejo os automobilistas a correr. Parecem meteoritos apressados. Mas a bolinha vermelha diz aos atrasados para estacionar as máquinas em frente às riscas brancas, onde as multidões aproveitam para se cruzar. Movo-me. Sou o único a fazê-lo com lentidão. Perto do passeio oposto, as minhas mãos perdem o casaco. Para o salvar das solas que pisam o chão com negligência, dobro os joelhos e movo os braços. Mas abandono a ideia quando vejo as rodas dos carros a sair da inércia. Colado ao poste, que no cume tem três regras distintas, escondo o nervosismo atrás dos punhos e espreito o pobre casaco. Do outro lado, as vozes continuam a gritar para os telemóveis; os olhos, cravejados de brilhos, colocam calmamente o olhar na carnificina. Uma repulsa, por causa dessa coscuvilhice atrevida, por causa desse atrevimento inesperado, apodera-se da minha traqueia. A voz, no entanto, permanece inexpressiva e isso é algo que me agrada, porque se ela exprimisse o amor que sinto pelo casaco as multidões achariam que sou um pateta ou um velho sem juízo. Entretanto, os automóveis param. Tiro da cabeça a indecisão, essa coisa que me faz pensar que não tenho certezas, e olho para os olhares que se afastam do casaco e olho para as pernas que se movem. O objecto, que foi uma prenda de anos da minha falecida mulher, é de novo esmigalhado. As mangas, como não resistiram aos choques, são agora dois balões que voam por entre as pernas dos desconhecidos. Faço dilúvios nos olhos e reforço os regos do rosto, mas digo adeus à memória quando me sinto a sufocar.

sábado, 7 de abril de 2012

PÁSCOA


A mesa está cheia de amêndoas e de ovos pintados. Só falta o pão-de-ló para preencher o círculo que está no centro. Mas vai demorar, porque a entrega está atrasada. Foi o que me disseram na pastelaria. Não faz mal. Sento-me no sofá e observo as folhas das árvores. Ao fundo, o céu carrega-se de nuvens e de pássaros, “Trimmm! Trimmm!”, o telefone toca. Abandono o miradouro e vou até à cozinha. Sobre o parapeito, leio as palavras que estão no ecrã: “Desejar uma páscoa feliz aos amigos do blog”, apago o lembrete e ligo o computador.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

NO MEIO DA PENUMBRA


O dia está frio, mas não há vento. No céu, as nuvens engolem aviões e escondem o sol. Mais a baixo, alguns pássaros olham para as ruas da cidade, onde a solidão se passeia com lentidão. Coloco o cansaço num banco e olho para o horizonte. É difícil distinguir a linha que divide os sonhos da verdade, porque as cristas dos prédios escondem partes importantes do contorno. Mas deixo de a procurar quando o chão de madeira me avisa que há alguém a caminhar. Movo o rosto. No lado oposto, vejo o corpo da minha mulher sem a vestimenta. Engulo um desejo, um desejo ardente, forte, enorme, e ergo a ansiedade. Abro os braços e abraço as ancas esfomeadas, enquanto perco as calças.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

FRIO

tenho o nariz frio; os dedos dos pés são cubos de gelo. na rua vejo pessoas com o peito à mostra. talvez a constipação seja a causa desta diferença.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

DE MANHÃ

Acordo com a cara enterrada no pântano viscoso que brotou da minha boca. Junto a ele está o meu companheiro a lambê-lo. Reprovo-lhe a atitude através de um sopro impetuoso. O tipo, a piscar incómodos, abana a cabeça com veemência. Tenta proteger-se da tempestade. Mas a aflição leva-o até ao sobrado, “Isto não é para beber, menino!”, grito com enfado. Como não o vejo, estico o pescoço e movo a cabeça. Os gestos, violentos e irreflectidos, obrigam-me a desequilibrar. Para recompor o equilíbrio do tronco, coloco a mão esquerda no meio do pântano. Digo palavras incultas, dou suspiros nervosos, encarquilho os regos do rosto e desenho anarquias com os braços. Transformo-me num desassossego hilariante. Por isso é que a bola de pêlo fez ironias com o rosto quando me viu, “Tratante!”, pego numa almofada e atiro-a. Não consegui controlar a ira.

terça-feira, 3 de abril de 2012

NOITE

Perto dos objectos minúsculos, o crepúsculo é engolido pela noite. Da varanda do meu apartamento, que está a três pisos de altura do pavimento asfáltico, assisto ao acontecimento. O gesto, executado pela natureza, obriga-me a recordar os gestos dos homens. Mas quando as estrelas se acendem, os flagelos dissolvem-se no brilho dos meus olhos. Quase ao mesmo tempo, os candeeiros que estão presos às fachadas dos prédios iluminam os movimentos da solidão, que desce calmamente pela rua. Movo o olhar e espio-o. Sem que nada fizesse prever, a tristeza recorda-me o dia em que a minha amada morreu. Ao recuar até à tragédia, as fontes dos sentimentos enchem-se de dilúvios. Os regos do rosto, incapazes de orientar a emoção, ficam submersos. Isso permite à aflição penetrar na minha pele. Para não a ter como companheira, varro o pensamento e limpo a humidade.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

LIVRARIA ARQUIVO


No sábado, em Leiria, a livraria Arquivo foi o local escolhido para receber as palavras do remix: uma espécie de remistura a partir dos contos do Paulo Kellerman, que estão unidos num e-book. O espaço, repleto de razões empacotados em livros e de aromas magníficos, expelidos pela máquina do café e pela torradeira, esteve cheio. Tão cheio que não dava para meter mais cabeças. O que me impressionou. Como também me impressionou a emoção que saiu dos rostos quando os autores, os senhores das metamorfoses, leram os cozinhados. No final houve abraços e beijos. Alguns foram regados por lágrimas; outros pediram a tudo para que o futuro traga mais eventos.

sexta-feira, 30 de março de 2012

NOITE


Perto dos objectos minúsculos, o crepúsculo é engolido pela noite. Da varanda do meu apartamento, que está a três pisos de altura do pavimento asfáltico, assisto à insolência. O crime, gesto executado pela natureza, obriga-me a construir palavras feias dentro de mim. Mas o silêncio aconselha-me a usar pensamentos mais recatados. Para não o atormentar com questões intensas, com questões que incomodam, dou um suspiro e olho para cima. A cidade do além, que é um espaço sem construções – pelo menos é o que os sonhos me informam – acende as estrelas. O manto da bruma perde então o aspecto irreverente e ganha contornos simpáticos. Quase ao mesmo tempo, os candeeiros presos às fachadas dos prédios iluminam os caminhos dos transeuntes. Movo o olhar e espreito a solidão. Sem que nada fizesse prever, a nostalgia relembra-me a morte da minha amada. Ao recuar até à tragédia, as fontes dos sentimentos fazem dilúvios calorosos. Os regos do rosto, incapazes de orientar a emoção, ficam submersos. Para que a inundação não invada por completo os lábios, varro o pensamento e limpo a humidade.

SOL

estou constipado. no céu, o sol envia raios de calor. isso provoca-me desconforto nas fossas nasais e nos tubos respiratórios. faço caras feias, daquelas que fazem assustar qualquer um. mas a sombra, que se esconde por detrás de alguma coisa, ergue a bondade. deixo o pudor no esquecimento e aceito o convite.

quarta-feira, 28 de março de 2012

EXCERTO DO ROMANCE QUE ESCREVI

"Sem que nada fizesse prever, sinto no peito uma dor confusa. Cruzo os braços e pressiono-o com afinco. Aos poucos, o crepitar perde o fulgor. Quando ela é apenas uma embalagem, uma partícula de memória, descravo a fúria do tronco e faço Primaveras no rosto. Ficam só a faltar os voos dos pássaros e as cores das flores para ter a perfeição dentro de mim. Mas o cansaço é um martelo que me massacra. Agarro no cobertor que entretanto caiu e vou para a sala."

terça-feira, 27 de março de 2012

126º ANIVERSÁRIO


Ludwig Mies van der Rohe, nascido Maria Ludwig Michael Mies, (Aachen, 27 de março de 1886 — Chicago, 17 de agosto de 1969) foi um arquiteto alemão naturalizado estadunidense, considerado um dos principais nomes da arquitetura do século XX, sendo geralmente colocado no mesmo nível de Le Corbusier ou de Frank Lloyd Wright.

Foi professor da Bauhaus e um dos criadores do que ficou conhecido por International style, onde deixou a marca de uma arquitetura que prima pelo racionalismo, pela utilização de uma geometria clara e pela sofisticação. Os edifícios da sua maturidade criativa fazem uso de materiais modernos, como o aço industrial e o vidro para definir os espaços interiores, e a aparência exterior de suas obras. Concebeu espaços austeros mas que transmitem uma determinada concepção de elegância e cosmopolitismo. Também é famoso pelas várias frases cridas por ele, algumas delas são conhecidas praticamente no mundo todo, como é o caso das frases "less is more " ("menos é mais") e "God is in the details" ("Deus está nos detalhes").

Mies van der Rohe procurou sempre uma abordagem racional que pudesse guiar o processo de projeto arquitectônico. Sua concepção dos espaços arquitetônicos envolvia uma profunda depuração da forma, voltada sempre às necessidades impostas pelo lugar, segundo o preceito do minimalismo.

segunda-feira, 26 de março de 2012

FAMÍLIA


Em volta da mesa, as cabeças fazem sombra para o tempo de pedra. A criança, que está no centro do rectângulo, olha para as nuvens com cabelos, “Pipipipi!”, “Cucucucu!”, “Cácácácá!”, “Riririri!”, do céu, os trovões são cuspidos como os tiros. Os olhos, pequenos, frágeis, amedrontam-se. Mas o silêncio embarga-lhe e voz, “Pipipipi!”, “Cucucucu!”, “Cácácácá!”, “Riririri!”, de súbito, no quintal, os pássaros metralham o silêncio. É uma música eloquente. Abandono o púlpito e vou até à janela. Sobre as pedras, localizadas no fim da propriedade, os pinchas acasalam e picam nos concorrentes. Parece que os mouros andam por ali. Tiro os cotovelos da madeira, pois o cansaço aleija-me a carne, “Pipipipi!”, “Cucucucu!”, “Cácácácá!”, “Riririri!”, na cozinha, a penumbra crava-se nos rostos dos adultos. Da mesa, porém, sai uma luz que incendeia as palavras que dançam no espaço.

sexta-feira, 23 de março de 2012

CARO AMIGO

mastiguei o teu poema. dele saiu sucos de prazer. sorri, transformei as nuvens que abraçam os meus cabelos em auroras que invadem as primaveras, porque a minha língua sentiu-se a dançar com a maravilha. da prateleira, tiro poemas. abro o livro e escarro sentimentos. os vizinhos, de olhos arregalados, vociferam verdades que eu volto a cumpri-las. viver num apartamento tem destas monotonias.
com o corpo na cama, imagino o mar. é um abraço azul que sacode as sombras que saltam das montanhas. mas a poesia é um beijo que me faz adormecer.

OLHOS

Os olhos do Lobo Antunes controlam os meus dedos. Por vezes dizem-lhes que o texto está mau; por vezes dizem-lhes que as palavras são fraquitas. Mas os elogios são beijos que eles não recebem. Sentem-se tristes, lacrimosos; esperavam que a pedra fosse mais mole, menos intensa, esperavam um assobio mais fino. Sorrio e digo-lhes que o maior elogio é ter uma voz que critica.

JUAN GRIS


Juan Gris, pseudónimo de Juan José Victoriano González (Madrid, 23 de março de 1887 - Boulogne-Sur-Seine, 11 de maio de 1927)[1], foi um dos mais famosos e versáteis pintores e escultores cubistas espanhóis. Apesar de ter falecido jovem, Juan Gris representa o expoente máximo do cubismo sintético.

Iniciou a sua formação ingressando na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando. Após este período tornou-se aluno do pintor José Moreno Carbonero, começando também a ilustrar algumas revistas modernistas de poesia da época.

No ano de 1906, mudou-se para Paris, a "cidade-luz", centro mundial das artes. Ali conhece artistas como Guillaume Apollinaire, André Salmon, Max Jacob e, o que mais o marcou e influenciou, Pablo Picasso. Através deste último, conhece também Georges Braque.

Em 1912, passou, finalmente, a integrar o movimento cubista, tornando-se assim, conhecido em todo o mundo. Celebrou também, a sua primeira exposição individual, realizada na Galeria Sagot.

Continuou a expor nas melhores galerias de arte, até 1927, ano em que faleceu, com 40 anos de idade.

quarta-feira, 21 de março de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA


Poeta plural como o universo. Sentia com a imaginação. Prendeu a alma do pensamento e escreveu a poesia dos lugares comuns, das mentes inquietas, do Portugal sonhado, do amor adiado. Poeta que ainda hoje respira nas ruas, porque os seus versos marcam os nossos infinitos. (dia mundial da poesia. dedico este texto ao FERNANDO PESSOA)

terça-feira, 20 de março de 2012

ADEUS

E a voz morreu e o corpo sucumbiu às lágrimas que o devorava. As mãos das ervas, as amigas daquele corpo, estão debruçadas no caixão. Em volta, o silêncio reza. Pouso os joelhos na planície da tristeza e procuro nas prateleiras da memória as reminiscências que me façam sorrir. Pouco depois encontro-as nos fundos do compartimento, empacotadas em partículas de pó. Retiro o peso do tempo e volto aos tempos da juventude, onde nunca deveríamos ter saído.

segunda-feira, 19 de março de 2012

DIA DO PAI


As rectas e as curvas das ruas estão carregadas de calor. O sol sabe que hoje é o dia do pai. O meu está ali, sentado na poltrona dos reis. Diz que estes dias foram feitos para concentrar beijos e mimos nas bochechas dos felizardos. Não lhe refuto. Sei que ele tem razão. Também gosto de os receber quando o calendário diz-me que faço anos. Sem delongas, porque estas coisas não devem dançar com as hesitações ou os desperdícios de tempo, atiro os lábios para o púlpito. A minha mãe, agarrada às madeiras da porta, fica com os beiços descaídos. Dou uma gargalhada e digo-lhe que os ventos do meu coração também chegam para ela.

sábado, 17 de março de 2012

DIA

a chuva cresce e a terra molha-se. parece que se lava do calor que a tem maguado. os miúdos, de narizes encolhidos na tristeza e de bolas ao peito, espreitam o cinzento do dia. hoje não vai haver bulha. abro o livro do saramago e releio o impossível: "ensaio sobre a cegueira" e saboreio os sumos que as metáforas transportam.

sexta-feira, 16 de março de 2012

SUGESTÂO


«O assassinato de duas prostitutas, no Rio de Janeiro, que, de início, parece obra de um maníaco sexual, abre uma caixa de Pandora de onde vão brotando, no decorrer de uma ação trepidante, as complexas ramificações de um tenebroso sindicato do crime. A história passa-se em boîtes e bares sórdidos, em sumptuosas mansões do Rio, em vilarejos da fronteira entre a Bolívia e o Brasil, onde reinam a cocaína e o crime, bem como na interminável viagem de um comboio que percorre metade do Brasil com couchettes que rangem sob o peso de casais fazendo sexo.» Do posfácio de Mario Vargas Llosa

quinta-feira, 15 de março de 2012

NO CAFÉ


De manhã pouso os respiros nas teclas do computador e construo frases. Os movimentos do café não me afectam. Mas os beijos das crianças pedem-me um minuto de atenção. Concedo-lhes. Ao fundo, o céu e a terra brincam com a infância, enquanto os olhos dos adultos apontam que o futuro juntará aquelas almas. Que infelizes! Ainda não sabem andar e já a hipoteca lhes diz que o caminho a seguir é aquele. Para não me aborrecer, levanto-me e abro a porta. Quero que o vento pontapeie o ócio.

quarta-feira, 14 de março de 2012

UMA MANHÂ


Os primeiros braços da manhã perfuram os sonhos das cabeças, que mastigam os sorrisos ou as tristezas. As cristas das folhas respiram alegrias, pois já podem sentir a eloquência do sol. No empedrado, os carros estão cobertos por partículas da noite. Fecho a janela. Deixo que a aldeia se vista de luz. Depois de sentar a sonolência na cama coço a anarquia. O cabelo é uma floresta devastada por uma tempestade, pelo menos é o que me diz a parede de vidro. Do outro lado do conforto, sinto um movimento. Olho para esse ponto. De braços a desenhar preguiças no ar, a desconhecida é uma Primavera. Estico o desassossego e toco na ponta da volúpia, “Malandro!”, sorrio. É um gesto que sente a loucura do desejo. Ela pressente que a manhã lhe vai dar muito trabalho. Mas não está com vontade de ser escrava da minha anca. Por isso salta para os fundos do quarto. Fico triste e perco a elasticidade do corpo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

QUINTA


A tarde respira os últimos suspiros e as galinhas esticam a preguiça. De quando em quando, o peito do galo acaricia as costas das meninas. A velhota, que é uma amiga do meu coração, dá-lhe uns bufos e atira-lhe uma escarradela grossa. O tipo, de olhos satisfeitos, levanta o bico e vira-lhe a repugnância. Perante tal comédia, os meus dentes constroem Primaveras. Há muito que não sugava um filme tão eloquente. Indiferente a isto, o gato pousa o cansaço na pedra e coloca a boca no leite. Aos poucos, o prato de inox fica com a solidão a mordiscar-lhe o nariz. Na rua, os cavalos levam os bojudos para as quintas que proliferam ao longo do monte, onde os ventos namoram com as árvores. Por fim, a noite crava-se na crista de todas as coisas. As estrelas, do tamanho de olhos, agarram-se às almas que saíram dos corpos adormecidos e dançam uma dança dos sonhos. Sorrio. Gosto de ver estas coisas. Quando o frio coze-me a carne, vou para o quarto e tiro os pés do chão.

sábado, 10 de março de 2012

AURORA E AS NUVENS

A crista dos montes namora com a aurora. fazem uma dança com as cores que nem em filmes se viu. mas os espirros das nuvens encobrem as delícias naturais.

sexta-feira, 9 de março de 2012

SUGESTÃO


«Arranjei o covil e parece que me saí bem. Do exterior vê-se apenas um grande buraco, mas na realidade esse buraco não conduz a parte nenhuma (…) Porém, a uns passos do buraco, abre-se a verdadeira entrada, coberta por uma camada de musgo, que eu posso levantar: se há neste mundo alguma coisa segura é este lugar.»

quinta-feira, 8 de março de 2012

JOGO


dentro do pavilhão, as vozes comem golos e vociferam com as derrotas. é uma forma de transpirar os desassossegos do dia. quando o relógio nos mostra que o cansaço é o capitão do nosso corpo, vamos para o balneário e despimos os nervos.

quarta-feira, 7 de março de 2012

NUVENS


lá fora, o portão de entrada faz barulho. parece um rinoceronte a namorar. dentro de casa, puxo os cobertores até às orelhas e espreito os suspiros da noite. quando o silêncio é imaculado, engulo o cansaço e adormeço. instantaneamente, o meu corpo salta para um miradouro, onde vejo as nuvens a espremer a tristeza. entristeço-me. não gosto de sugar os aromas da desilusão. mas o vento da comédia agasalha a minha língua com anedotas. por causa desses raios de sol, o céu azul desce até à terra.

terça-feira, 6 de março de 2012

ONDAS


Ao fundo, aos saltos, as ondas espreitam as nossas bocas. Como não sabem ler gestos, as obstinadas sobem a rua e enchem os buracos com ansiedades. Os nossos olhos, ligados às correntes do dia, sugam os desígnios do mar. Sorrimos. Não estamos habituados a ser estrelas. Por fim, quando o horizonte constrói a noite, erguemos os corpos e contamos à água o nosso segredo: "A luz do amor incendiou os nossos beijos."

segunda-feira, 5 de março de 2012

MANHÃ


levo a noite para a cama dos sonhos e desperto a aurora. ao ver o meu gesto, o azul do céu mistura-se com o amarelo. os senhores dos galinheiros, amedrontados com as cores do paraíso, libertam o silêncio da voz e empinam os pescoços. é uma forma de exigir que o sono não fuja dos corpos. perto das cabeças das construções, os olhos sonolentos cospem impropérios aos imperadores. mas a sapiência aprendeu a não responder a desaforos. indiferente a estas insignificâncias, a manhã pontapeia as estrelas e afaga as nuvens.

domingo, 4 de março de 2012

RUAS

os bolsos dançam com o silêncio e os beiços mergulham na tristeza. esta é a realidade das ruas.

sexta-feira, 2 de março de 2012

NOITE

a noite caiu. abro a janela e meto a cabeça a espreitar a rua despida de vozes. parece que o navio do silêncio levou a algazarra do dia. encosto os cotovelos no parapeito e conto estórias às nuvens. é uma forma de me sentir acompanhado. mas o som dos sinos da igreja diz-me que os olhos já deviam de estar fechados. fecho o rectângulo e meto-me nos sonhos como quem beija uma fonte.

quinta-feira, 1 de março de 2012

SUGESTÃO


Este é um pequeno livro de Filosofia sobre a origem e as consequências do mal, que tenta explicar por que razão a acção de um homem com poder que humilha outro, retirando-lhe direitos, confere prazer interior a esse homem. A motivação do autor prende-se com o facto de, por exemplo, um ministro que corta do orçamento as verbas para transplantes estar indirectamente a contribuir para a morte de vários indivíduos, sem, no entanto, alguém poder dizer que esse ministro era um homem mau. Mas, na verdade, as consequências do seu acto têm o mesmo efeito de um assassínio. Livro polémico, que nos ajuda a perceber que o mal não é só aquilo que pensamos.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

SORRIR

De manhã estive no miradouro, onde os cafés satisfazem as gargantas ensonadas. É um sítio calmo, sossegado; é um paraíso no meio da anarquia. Se eu mandasse no corpo do mundo, mandava um terramoto abater esta cidade. Poupava apenas as pessoas e algumas árvores, que de longe parecem poemas. De tarde vou continuar a juntar palavras. Tenho um romance para terminar. À noite, quando a madrugada estiver a sair da cama, visto o pijama e pego num livro. Espero que a aurora me veja a sorrir.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

MAR

Estou sentado no areal. Ao fundo, os dois azuis misturam-se elegantemente. Parece que constroem um tecido único. Perto dessa eloquência natural, os versos e as rimas mergulham na água calma e procuram-me, porque a folha de papel que seguro nas mãos é uma cama que atrai poemas.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

IDEIA SIMPLES

O homem é dono do seu silêncio e escravo das suas palavras.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

CORRENTES D' ESCRITAS


E o pano fecha o mundo das palavras. Os livros, de orelhas descaídas, choram sobre as mesas, enquanto a multidão limpa a tristeza e evapora-se na noite que engoliu a cidade. Ao fundo, a crista do mar limpa as lágrimas do dorso e esconde as memórias nas sombras dos milagres. Ergo os sacos e sobrevoo os abraços que se despedem e pedem para que o reencontro não ultrapasse uma dúzia de dias. Perto de casa, a muitos quilómetros do paraíso, retiro as fotografias da memória e revejo a eloquência das vozes e dos gestos que polvilharam os leigos com reencontros dos porquês. Pouso os livros na secretária, dou beijos sumarentos nos rostos dos meus pais e vou até à varanda. A noite está sossegada. No céu, as nuvens recortam a escuridão como se desenhassem um filme cómico. Rio. Há muito que não me divertia tanto. Mas o frio é uma faca que me espeta na carne. Dou saltos, digo palavrões e meto-me na cama, onde encontro uma folha de papel. Desdobro-a e leio a frase: “As Correntes D’ Escritas são olhos que nos ensinam”, desloco os cantos dos lábios e peço a tudo para me trazer a próxima edição.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ROMANCE

"Ao longe, ouço algumas vozes a contar exageros a outras. As mais desbocadas, afirmam que eu sou um séquito do Senhor. E como tal, o mal tem os dias contados. Talvez por isso, alguém pediu para chamar o padre. Agradecer as boas novas lá de cima é um dever constitucional. Porém, quando penetro no meio da floresta, perco o fio da história, porque as folhas hasteadas dançam com os braços do vento"

domingo, 19 de fevereiro de 2012

CARNAVAL

as máscaras mergulham na ironia e os corpos navegam na praça. haja disfarces...!

MALUCO

o carro já cuspiu alguns sinais de vida, mas o tipo ainda precisa de mimos e de pastilhas. talvez na terça-feira, o tinhoso, que me leva o couro e o cabelo, já esteja com saúde. se não estiver, dou-lhe dois berros e dois pontapés e acaba-se as esquisitices. ai o menino!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

MÃOS


Depois do almoço, as pernas debruçam-se na varanda e apanham sol. O dia está quente e as nuvens são apenas lembranças. No asfalto, os cães estendem o cansaço e bocejam como os doentes do sono, “Ó Silva, não te esqueças da bejeca”, “Está prometido, caro amigo”, o senhor Jaquim, homem forte e obeso, calcorreia o sossego. Quando lhe envio as ditas palavras, o manhoso, de olho esticado, aponta-me o dedo indicador e diz-me: “Se falhas, levas! Já sabes”, sorrio, enquanto ergo as mãos, “Ó home, está prometido, está prometido! Não há que enganar”, “Assim é que se fala, carago!”, mas perco o sorriso, porque vejo a velhice a dilacerar-me a pele. Escondo as mãos e tento assobiar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A LEITURA DA NOITE


Pássaros com dentes passeiam-se nas línguas pretas, que são estradas sinuosas e perigosas, ao mesmo tempo que as janelas e as varandas sonham com devaneios. No céu, o manto preto está furado por resmas de olhos brancos. Parece que a assembleia dos deuses está reunida. Junto à Praça dos Montes, dois bêbados abraçam-se amigavelmente e dois mistérios dormem ao pé da estátua. A crise, esse flagelo do capitalismo, já abateu mais corpos. Arrepio-me, não gosto de ver o cemitério a encher-se, e fujo. Quando me aproximo da câmara, as luzes apagam-se e a escuridão agarra-se aos objectos como se fossem caneladas do diabo. Abro a porta e saio da noite.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

AMOR

os beijos andam por aí. é provável que depois do jantar, a noite transforma-se num pântano de apalpões e de maluquices. porém, a madrugada irá obrigar as aves a ir para os ninhos e irá permitir à monotonia enlouquecer novamente as gargantas. amanhã, o dia talvez traga a separação.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SILÊNCIO

os carros esburacam o silêncio da cidade. mas é possível pensar que o mundo é composto por nervos sossegados, porque os ricos ditam regras que ninguém quer cumprir. será preciso ficar sem pão para existir uma arma universal que ponha fim à ditadura?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

MALUCAS

tenho as mãos estufadas. parece que as tolas morderam o frio ou foram ao frigorífico sem me consultar. acho que o bicho da gripe gosta de me chuchar a carne ou as pontas dos dedos. se o apanho, dou-lhe cabo do focinho.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SUGESTÂO


Romancista inglês nascido em 1812. Publicou obras em que denunciava a vida difícil do operário na sociedade industrial emergente (como Grandes Esperanças e Tempos Difíceis) e, em particular, a miséria das classes sociais mais baixas e a precaridade da infância (em Oliver Twist, especialmente). Escreveu também um muito popular Conto de Natal. Morreu em 1870

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ALGAZARRA


Perto da igreja, as vozes apoderam-se do silêncio como se fossem guerreiros. O Presidente de Junta, homem de barbas brancas e de barriga proeminente, encosta-se ao muro e ergue as mãos até ao cabelo aflito. Parece uma ave em cima do crude. Mas o sinal do almoço, que soou vagarosamente das fábricas, varre a algazarra e traz o silêncio. A suspirar de alívio, o sujeito sacode o casaco e apanha as queixas que pintam o passeio de outra cor, “Se eu sabia o que sei hoje, não me tinha candidatado!”, e empurra-se para a tasca do Zé, onde novas facas estão à sua espera.