quarta-feira, 18 de abril de 2012

ASSALTO


O frio encrespa-se. As pessoas, de golas erguidas, correm e escondem-se nas tocas das lojas, onde os valores dos saldos são expostos nas paredes. Mas as carteiras, desprovidas de essência, avisam-nas que o momento não está para gastos. Ficam tristes e fazem beiços carregados. As empregadas, de narizes metidos na coscuvilhice, observam-nas. Subitamente, no pronto-a-vestir, que fica ao pé da câmara, é assaltada. Os ladrões, homens de estrutura volumosa, descem a correr a Rua da Liberdade. Ao pé da estátua do rei mudam de direcção e desaparecem. Os arbustos são bons para isso. Pouco depois, o carro da GNR penetra nas perguntas dos velhos e pára a dois palmos da mulher que grita. O condutor, um albino sorridente, faz mover o vidro, “Onde estão?”, “Estão ali”, e os dedos da pobre histérica esburacam o sossego do parque, “Os bandidos não vão longe”, faz-lhe uma vénia e acelera. O carro, dos anos oitenta, seguramente, incendeia de vermelho os olhos das pessoas quando trava. Mas o mistério, em forma de bruma, apodera-se da máquina.

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