sexta-feira, 30 de julho de 2010

HOMENAGEM A ANTÓNIO FEIO


O actor António Feio morreu, no Hospital da Luz, em Lisboa, onde estava internado desde terça feira - "temos que sorrir"

Quando a toalha vermelha é mesmo vermelha


Para os dois pares de olhos, o problema com arestas, que lascam o jumento mais duro, não é mais do que uma tertúlia sem olhos, porque a verdade vive nas trevas dos interesses. É certo que os terceiros, esses seres imaturos que vivem a viva imaculada como se fossem rebentos sem pêlos, desembrulham-na para os ouvidos dos corjas, mas quem nasce sem princípios jamais lava a merda na fonte da esquina. E aquilo que parecia um simples desencontro, portanto, transforma-se na cegueira com defeitos, mesmo que aqueça toalha vermelha seja mesmo vermelha.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ler


Num ambiente rural onde a religião é uma âncora fundamental e a visão do pecado uma pesada herança do Estado Novo, "O Nosso Reino" começa como uma aventura terna e cândida, contada por uma criança obcecada pela diferença entre o bem e o mal…

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O crepúsculo das duas da manhã


Da varanda vejo a fronteira entre o céu e o inferno a colorir a noite com laranjas, amarelos e cinzentos muito escuros, que o incêndio brota da floresta aterrorizada. No prédio ao lado, na única janela aberta ao cinema, dois homens de tenra idade abraçam o êxito, “Finalmente mordemos a alegria”.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Praia com tudo


No areal centenário, a contar pelas palavras dos historiadores, os guarda-sóis crescem como cogumelos, assim que o presente se transforma em memórias verdes, a crescerem dentro dos observadores que olham o bulício festivo nas varandas de pedra, que polvilham a fronteira do natural com o construído. Antes do crepúsculo perfurar o horizonte azulado, quase, quase, de mãos entrelaçadas com a dança das ondas, empurradas pelas lufadas que mais parecem sinfonias das antigas, a conquista do areal atinge o esgotamento de um amor a percorrer as entranhas do medo. E com a proximidade da desilusão, que fará derreter as partículas de alegria nos rostos sardentos, os sovacos dos banhistas cospem cheiros pestilentos para as uvas do vizinho, que as come com delícia, ao lado de nádegas gordurosas a verterem umas flatulências acumuladas pela digestão da feijoada, que a personagem comeu ao almoço.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Para quem casou com a solidão


“Quem quer passar além do Bojador/ Tem que passar além da dor”, porque o infinito é uma bandeja que não mora nos possíveis. Todavia, quando um veemente pelo trabalho beija a sorte e lhe acaricia as lágrimas de júbilo, a sua altivez repugna os triviais com dentadas às coisas comuns, que tantos sorrisos lhes dão, como se fossem chicotes dos pais a rasgarem as ideias inovadoras dos filhos, sobre o negócio familiar. Na sequência desta vassourada, a mesa com bolos e velas, que formam palavras satisfeitas pelo resultado das horas envoltas na solidão, está taciturna e despegada de sentimentos, já que o amontoado das fotografias, com muitas caras a fitar o subjectivo, não compreendem a urgência e a necessidade do aplauso.
Dias depois, com o prémio a emoldurar uma parede caiada, o selvagem sobe o promontório, com passos muito certos e firmes. No cimo, os cabelos grisalhos saltam para a anarquia, desgrenhando-o agressivamente as ideias. Pouco depois, quando o dia passa a noite, o génio despido de convívio, a chorar, atira-se para a libertação, voando para as nuvens que lhe darão amor.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ler


Os Cus de Judas é um livro de António Lobo Antunes editado pela primeira vez em 1979. Retrata a experiência pessoal de Lobo Antunes como médico de campanha enviado para Angola na Guerra Colonial portuguesa. Ao longo do livro, o leitor que assume mesmo a dimensão de "interlocutora" do personagem principal, constata uma Angola degradada, em plena guerra colonial, esse "inacreditável absurdo da guerra". Muito mais do que uma opinião, a descrição do autor é a explosão de uma dura experiência, focando-se em vários pontos: as inúmeras baixas da guerra (desprezadas pelo Estado), os inocentes da vida (as pobres crianças de Angola e as miseráveis condições em que viviam), a distância de casa, a perda dos laços familiares, o medo da morte mas, sobretudo, a eterna incompreensão dessa guerra.


É o segundo livro do autor e valeu-lhe em 1987 um prémio da embaixada de França em Lisboa.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Reflexão

‎"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", de Fernando Pessoa

quarta-feira, 21 de julho de 2010

“Saber ver a arquitectura”


Dentro da tarde, ainda a meio, o sol aquece a conversa que envolve paredes, janelas e as portas de uma habitação em construção. Para muitos, ela não passa de uma camisa que se compra numa qualquer loja, ao pé de uma esquina da cidade, como se o corpo e a mente fossem uma chatice que necessita de quatro paredes. Mas para este jovem casal, ainda a cheirar a tinta branca, todo o pormenor não é concluído sem uma conversa prévia que esmiúce o milímetro e, por vezes, o nada.
Já em casa, depois de concluídas as alterações no projecto, olha para a cidade que dorme. E ao fim de alguns momentos, que mais não foram do que instantes minutos, murmuro com um sorriso a mosquear a minha face enegrecida pelas sombras, “As casas deveriam ser carros com grandes cilindradas”.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A eloquência da língua esquisita


A esplanada está cheia de palavras diversas. Muitas delas não são mais do que desconhecimentos para os meus ouvidos, porque implicam uma língua com características muito específicas, muito peculiares, oriundas de pensamentos antagónicos à minha rua. E por isso, a elas, arregalo a minha coscuvilhice, desprendendo-me do tudo colorido que olha o céu de olhos fechados e que estende os membros como lagartos ao sol. Fico assim até surgirem eternidades, rodadas nos ponteiros do relógio que nunca se atrasa e nunca se adianta, estendido naquela parede com sombras, sem nada acrescentar ao nada ou ao vazio do conhecimento, conforme os apetites de cada um.
Com a cabeça cheia de palavras para colocar no romance que escrevo, esse texto com muitas palavras pintadas em papel morto – que já foi vivo, quando era uma árvore – abandono o que é dos outros e ergo a verticalidade. Aí, nesse profícuo à locomoção, despejo as moedas que pagam a despesa em cima do plástico, pintado num vermelho muito aguerrido, e depois viro-me com a eloquência de uma bailarina. Mas antes de iniciar os primeiros passos, os que falavam pelo esdrúxulo transformam a língua em algo que conheço. Viro-me, olho-os e vejo que são portugueses. Enfim, manias.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O churrasco com Portugas


Quando o calor aperta o domingo em horas que os olhos estão abertos, o parque de lazer defronte dos meus olhos, que estão a dois pisos de altura do pavimento asfáltico, descose a solidão acumulada durante a semana com os gemidos histéricos dos da cidade. Ladeados pelas brumas do churrasco, que saltam dos fogareiros com carne para regimentos esfomeados, os toncos nus passeiam a volúpia da gordura pelas ervas secas. Muitos deles, mesmo a esta distância, lançam cheiros pestilentos que se sobrepõem aos da comida aos da comida e me magoam a sensibilidade do nariz. Arrepio-me à brutalidade dos descuidos para, no momento seguinte, lançar-lhes salivas surdas, cobertas de impropérios. E depois fujo para um país mais limpo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ler


Morrem Mais de Mágoa, de Saul Bellow - Livros QuetzalKenneth


Kenneth Trachtenberg, o narrador de Morrem mais de Mágoa, é um especialista em literatura russa que abandona Paris, a sua cidade natal, para ir ao encontro do tio. Morrem mais de Mágoa tem o humor ágil da farsa francesa, mas são inseparáveis do seu enreedo tragicómico as análises engenhosas do autor sobre a vida moderna e o dilema de dois homens, cujos espíritos brilhantes não os salvam de Benn Crader, um botânico famoso. As muitas facetas da relação entre estas duas personagens inquietantes, irrequietas e excêntricas - ambas procurando no erotismo e num amor calmo, diverso das convulsões sexuais do século XX, resposta para a satisfação que os persegue - são o pretexto de uma narrativa cheia de humor e inteligência e sabedoria. Por que será que, quando surgem os problemas, as pessoas procuram em primeiro lugar o remédio sexual? Por que será que as pessoas inteligentes e dotadas se encontram invariavelmente atoladas numa miserável vida particular? Por que será que os sobredotados, os intuitivos, os que são capazes de ler no livro dos mistérios da Natureza, hão-de ser tão incautos e tolos?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Falta-me o gesto


As folhas acumulam-se no estirador. Já é uma espessura que faria inveja ao meu avô, que já não dorme a noite e já não vive o dia. E aquilo que parecia martelado em três pregos transforma-se numa infinidade de marteladas, necessárias ao suporte do enredo. Enfim, existem personagens que se agarram aos nossos dedos como sanguessugas, chorando que nem infantis os abandonos dos criadores. Mas a eternidade é apenas uma utopia para os dementes, que não vivem este território de caça. E como não o sou, em nenhuma parte do meu perímetro, a navalha que dá adeus encontra-se na minha mão. Agora falta-me a coragem para o gesto.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Como ódios


Aos domingos, durante a tarde, passo pela praça coberta de árvores e de pessoas sentadas na sombra de pedra, a conversarem muito alto as fofoquices das ruas.
Por vezes, quando menos espero, eles encostam-se no silêncio para contemplar um pensamento uníssono, que surge subitamente do nada. Estão assim durante momentos incontáveis, até que por fim todos inspiram a mesma vontade. E quando ela transborda dos ossos, surge o escarro amarelo para o chão, desferido pelo expiro do alívio. Que muitas vezes, levadas pelas lufadas do diabo, me pintam os sapatos de verniz.
Ainda lhes encarquilho impropérios cáusticos, com palavras grossas, mas as suas gargalhadas jocosas ao meu corpo obriga-me a comer ódios.

terça-feira, 13 de julho de 2010


T A M E R A

Campo Experimental para uma Nova CulturaUniversidade de Verão: 26 de Julho a 4 de Agosto

Seminário: 30 de Julho a 1 de Agosto

Dia Aberto: Sábado 31 de Julho


Universidade de Verão:Chegada dia 25 de Julho, saída dia 5 de AgostoThink Tank para o Trabalho pela Paz Global e Construção de ComunidadeConvidamos para um think tank sobre trabalho para a paz global e construção de comunidade. A Universidade de Verão 2010 será um local de encontro para aqueles que se recusam, mesmo em tempos difíceis, a perder a esperança e insistem em manter o seu poder visionário. Convidamos, sobretudo, jovens de todo o mundo, trabalhadores pela paz a juntarem-se a nós.
Um think tank de 10 dias com os seguintes temas:
 
Campo Experimental da Aldeia Solar: energia solar para a autonomia e sustentabilidade
.Paisagem aquática inspirada na Permacultura: cooperação com a Terra
.Movimento por uma Terra Livre: Perspectivas para um trabalho pela paz global.
Campus Global – iniciativa de educação a nível mundial para profissões que usam a Paz, a Arte e a cultura como elementos de resistência não-violenta
.Construção de comunidade, resolução de conflitos e verdade no amor como base para uma nova cultura.Línguas: Alemão/ Inglês/ Português/ Espanhol

Preço, incluindo alojamento e alimentação: (para participantes portugueses) €480 
Para Jovens (até 25 anos de idade): €


Seminário30 de Julho – 1 de AgostoConvidamos todos os que queiram conhecer Tamera pela primeira vez, tal como todos os que queiram aprofundar e renovar a sua experiência com Tamera.Durante a Universidade de Verão, reúnem-se em Tamera muitas pessoas e grupos da nossa rede internacional, trabalhadores pela paz de todo o Mundo.Este seminário de fim de semana é uma oportunidade de conhecer o trabalho ecológico de Tamera, e também o trabalho político internacional da comunidade.Participaremos no programa da Universidade de Verão, e teremos também espaços para perguntas para aprofundar os interesses individuais.Acompanhamento: Meike Müller e equipaLíngua: PortuguêsPreço, incluindo alojamento e alimentação: €50, pagamento à chegadaImprescindível trazer tenda própria!Início: 30 de Julho, 19h (jantar), fim: 1 de Agosto pelas 17hInscrições: office@tamera.org


Dia Aberto- Sábado, 31 de Julho Durante a Universidade de Verão, convidamos os nossos vizinhos, amigos e colaboradores para um dia aberto em Tamera.Programa9h: Chegada, inscrições10h: Palestra por Bernd Müller: Água é Vida11h: Espaço para perguntas13h: Almoço14.30h: Visitas guiadas: Paisagem Aquática de Permacultura e Campo Experimental da Aldeia Solar17h: Celebração no Campo Experimental da Aldeia SolarPalestra: “O que é uma vida sustentável?”Celebração com música e petiscos, com os nossos vizinhosA participação é gratuita, e agradecemos contribuições financeiras!


TameraCentro Internacional de Pesquisa pela Paz, AlentejoPara a cooperação com a Natureza, a Solidariedade entre as Pessoas e para um Futuro sem GuerraTamera, Monte do Cerro7630-392 Relíquias, Portugal

Tel: 283 635 306

Fax: 283 635 316


Quando o paraíso és tu


Sinto a noite fresca, arrebitada por bofetadas que o vento dá nas folhas das árvores. Em baixo, junto às pedras com musgo, apenas os meus passos, acompanhados pelos do meu pai, rompem a solidão dos inertes, porque a cidade está no sonho dos moribundos.
São da três da manhã e hoje o meu pai faz anos (é como se fosse um somatório constante que faz arrebitar qualquer cabeça grisalha). Mas ele está calmo, alheio à plantação de velas no bolo com creme de chocolate, que comemos em três dentadas não faz minutos, embora o brilhozinho dos olhos me indicam alguma tristeza.
“Pai, estás bem?”, lanço-lhe um sorriso, “Não podia estar melhor. Faço anos, tenho saúde e tu estás aqui”, não me olha, “E o resultado da soma?”, pára e eu paro de seguida. Olha-me com aqueles olhos de cor de mel, muito sedutores, e por fim, “Indica-me que subi mais um degrau, na aproximação da porta do choro. Contra isso não podemos lutar. E também não quereria, caso fosse possível, porque quem te tem, tem o paraíso”.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Quando os vizinhos são mais fortes


Arrumam-se as bandeiras e as vuvuzelas; chora-se a derrota e grita-se a vitória.
Na minha rua, talvez como noutras ruas, não há mais do que silêncio, sob as lufadas vindas do norte.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Já não se projectam cidades com silêncio


Quando o calor arrasa com a paciência, o Portuga rasga os acessórios que tapam o pudor, com a brutalidade de “porra pró tempo”. Isto é, quando ele está bem disposto, porque caso não esteja, o rol todo do dicionário vernacular é vomitado em três tempos, pelos beiços a espumarem.
E como nos últimos tempos o diabo passeia no nosso país, as pipas de cerveja e de febras lançam novas sombras para a noite, acompanhadas pelos relatos esmiuçados das contratações das equipas de futebol e dos gritos das mulheres avolumadas nas formosuras da gordura, que embirram nas diferenças de futuros sobre uma novela. O que me obriga a colocar algodão na minha desatenção, como se colocasse uma barragem a segurar nas ideias. Mas no fim de algum tempo, não muito, o incómodo do dique torna-se insuportável nos meus ouvidos. Chateio-me, dou um pontapé na mesa e rosno, “Já não se projectam cidades com silêncio”.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ler


Convite Para Uma Decapitação, de VLADIMIR NABAKOV - Assírio & Alvim


Na sociedade em que Cincinnatus C. vive existe um crime nefando, capital, a «torpeza gnóstica», passível da pena de morte. Em Convite para uma Decapitação, Cincinnatus C. é julgado em tribunal por «torpeza gnóstica» e condenado à morte e nós somos convidados a acompanhá-lo durante os dias (quantos? nunca os seus algozes lho comunicarão) que antecedem a sua execução na praça pública, à qual também assistimos. O crime de «torpeza gnóstica», crime obscuro e insondável entre todos os crimes, mas tipificado na lei naquela sociedade, é próprio das naturezas que não se conformam e não sabem com o que deveriam conformar-se, nem que são não conformes no seu comportamento. Resta-lhes a evasão pela imaginação, mas esta exige partilha, cúmplices, para existir. E este é o convite de Vladimir Nabokov: leitores procuram-se.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Não assaltaram as migalhas


“Hoje, o meu carro foi assaltado”, contou-me ontem um amigo aos meus ouvidos aterrorizados, com esta delinquência natural de certos indivíduos, espalhados nas malhas da cidade a sorrirem impunidades, “E levaram-te alguma coisa?”, pergunto-lhe com um nó no estômago, “Não levaram nem as migalhas que tenho no banco detrás”, arregalo os olhos até ao excesso, “Não percebo!”, “Nem eu”.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A verdade do real


Hoje matei uma personagem muito querida e muito ternurenta. Mas não tive alternativa. O enredo obrigou-me a retirar-lhe o sabor da vida, com dois tiros enferrujados de ódio de várias criaturas estranhas, a começar pelos capacetes que usam. Chorei e gritei por o ver a derramar o sentimento dos sorrisos para o chão empedrado, pintado de vermelho; chorei e gritei por sentir os últimos espasmos do meu querido.
As palavras têm destes infernos, que não os consigo eliminar, porque a verdade do real não é menos do que isso.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sintam o infinito


Neste dia soalheiro, as almas juntam-se em anéis, que mais não são do que anéis banhados a ouro, lacrados com nomes de muitas letras, naquele púlpito carregado de ansiedades, por muitas camadas de choro e de alegrias, que no passado os desconhecidos, os eternos desconhecidos para os meus olhos, rasgaram os corpos para os depositaram na alcatifa dos deuses.
Neste dia, que todos esperam que se transformem em presságios praticáveis, os sorrisos e os abraços, e tudo o que envolve o único, são a dança das horas.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ler


Este livro de contos de Paulo Kellerman é um jogo de espelhos. Lá, reencontramo-nos com solidões, cumplicidades, anátemas e obsessões. Num ambiente urbano e intemporal as personagens desfiam-se em diálogos contidos e bastante reais, onde o jogo proposto é aquilo que não é realmente explícito nos contos tão bem construí...dos e a que Kellerman nos habituou. São, também, espaços de silêncio que dizem quase tudo. Depois da atribuição do Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, de 2005, da APE com o seu livro «Gastar Palavras», Paulo Kellerman apresenta-nos esta colectânea de estórias num registo vincado de uma obra que já poderemos considerar de autor.


Os Mundos Separados que Partilhamos, de Paulo Kellerman - deriva editores

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O bicho da sorte


O bicho da sorte deambula no mundo sem lassidão e com muitas casquinadas metidas nos beiços largos e ferrugentos, ganhos pela soma dos anos, uma vez que os possíveis compradores não dão garantias que a merecem. “Não, porque é mais fácil colocar o rabo na tasca do que trabalhar como uma formiga”, são os desabafos mais frequentes, quando o bicho pergunta aos clientes, “O que tem feito, merece ser bafejado pelos deuses?”