quinta-feira, 28 de abril de 2011

Livros



Abriu em Lisboa a festa dos livros. Milhares de pessoas irão navegar nas mentes dos escritores, como se fossem alunos muito atentos, “Este gajo é tolo. Escreve cada coisa!”, “Este tem sumo”, “Já não se fazem escritores como antigamente”, “É um Deus”, provavelmente estas palavras serão vociferadas com genica; provavelmente muitos livros serão atirados para o cano do esgoto; provavelmente outros tantos serão levados em ombros para os púlpitos das memórias; provavelmente tanta coisa, “Mas cada palavra escrita é uma partícula de pensamento”, por isso, aprecie todas as obras.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Para todos




Faz hoje uma semana que deixei a divisão das obras privadas. Foram quatro anos de desilusões, de alegrias, de surpresas, de loucuras e de tristezas, de trabalho e de festas. Mas a vida prossegue sem capítulos, como se fosse um filme sem intervalos, “Como estás a lidar com essa memória?”, pergunta-me um velho fantasma, que rodeia diariamente o meu quarto, “Com sorrisos muito largos”, “Com sorrisos?”, “Sim, porque toda a malta foi maravilhosa”, “Não entendo”, “Quando o passado roçou a maravilha, as saudades do presente são diluídas nos bons momentos”, engulo uma emoção, “Obrigado, rapaziada”, e grito com a força do mundo.

Atitude moderna



A manhã vai longa e os nervos ultrapassam a barreira da loucura. Respiro o âmago da floresta, como se acariciasse as curvas do teu corpo, e beijo a fresquidão da placidez. E quando calcorreio as veredas do céu, o areal embrulha-me a delicadeza. Sorrio, iço a epiderme e olho para o azul infinito. Junto às pestanas de uma nuvem mais grossa encontro um cartaz, “A cidade sem sorrisos”, e penso que nunca vi ninguém puramente feliz.

terça-feira, 26 de abril de 2011

As três coisas



Tenho o corpo cansado. Parece que os Deuses da paciência me bateram nos ossos com força. Porém, sou um osso duro de roer, como se fosse uma pedra que não fura, como se fosse uma madeira que não parte. Por usar a dureza dos guerreiros épicos, o que parece uma utopia transforma-se numa verdade que respiro suavemente, “Caro camarada, estás bem?”, descruzo o olhar e penteio o cabelo do Zé, “Tenho saúde, tenho amigos e tenho objectivos”, levanto-me e abraço-o com veemência, “Como vês, tenho tudo”, e sorrimos, como quem sorri para a essência do respiro.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril



A minha voz não existe, pois sucumbiu na montanha da liberdade. Mas ainda tenho os dedos para gritar os últimos cartuchos: LIBERDADE.

sábado, 23 de abril de 2011

Paraíso

A brisa do bolo de chocolate embrulha-me com veemência, como se te sentisse a beijar-me as saudades. Mas antes de enlouquecer, voo para a cozinha e como duas fatias do paraíso.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Páscoa



Espero que tenham uma santa páscoa. tenham cuidado com as amêndoas :)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

É tão simples

O cinzento do céu desfaz-se com o sorriso do teu rosto. Por isso só depende ti mudar a estação...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Frio



Amasso a cadeira com o meu sorriso e olha para o rectângulo silencioso, que me olha tristemente como se o fim do mundo fosse no segundo seguinte, "Não fiques assim, camarada. Prometo que te virei visitar", uma das janelas abre-se e uma lufada carinhosa despenteia-me o cabelo, "Prometo que não irei esquecer dos mimos", despega-se do dilúvio e cola-se aos meus sentimentos para um longo beijo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sob a chuva



Estaciono o carro e desligo o motor cansado. Visto depois o casaco de linho e coloco a verticalidade na chuva, como quem coloca a roupa a lavar, "Quem abriu as portas?", murmuro com veemência. Mas antes de chegar ao alpendre que faz sorrir, vejo uma mulher aos gritos, "Acudam-me, acudam-me, levaram-me o rolo!", "O rolo?". A magote, de dentes afiados, salta dos esconderijos e corre até à causa dos bramidos, "Quem?", "Onde?", as perguntas abafam a praça, "Mas quem?", "Mas onde?", "Na puta que vos pariu. Deixem-me", e todos desaparecem.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nem mais

"As pessoas adoecem porque são pobres, mantêm-se pobres porque são doentes e continuam doentes porque são pobres".

domingo, 17 de abril de 2011

Ideia simples

Cruzo o pensamento com o calor do descanso e vejo que não há mar mais belo do que a água da verdade.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sugestão


Pelo autor de Soldados de Salamina, o aclamado best-seller internacional.

No dia em que conhece Daniel Berkowicz, o seu novo vizinho e inesperado colega de trabalho, Mario Rota torce o tornozelo. Estes dois factos imprevistos e simultâneos assinalam o início de um período terrível, em que a sua monótona vida de professor de Fonologia é subitamente dominada pela adversidade, e desencadeiam um pesadelo cheio de ameaças, presságios e acontecimentos estranhos em que o leitor é tão apanhado quanto o próprio protagonista. Um romance curto e vertiginoso, cheio de labirintos à maneira de Borges, que anunciava já a maturidade do autor de Soldados de Salamina e que chamou a atenção de críticos exigentes como Francisco Rico, que num inquérito promovido pelo jornal El País, o incluiu entre os melhores romances dos últimos quinze anos, ou como Roberto Bolaño, que o qualificou de “romance fabuloso, de um autor de um talento fora do comum”.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A saliva dos golfinhos



“Tenho os olhos cansados e o corpo dorido; tenho a boca magoada e as mãos feridas. Mas o meu coração tropeça na lama e sorri, pois a silhueta do teu rosto e a montanha do teu nariz desponta-lhe no pensamento, como se o fogo dos sentimentos ardesse com o negrume do inferno. Agarro a ferida que não se vê e corro para os beijos dos golfinhos, que salivam conselhos muito acertados”, “E depois?”, o corpo velho cruza os braços e responde ao neto, “E nasceu o teu pai”, sorrindo como um cavaleiro sem medo, “Que golfinhos tão queridos!”, “Que netinho tão giro”, a abraçam-se com ternura.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Olá

Tenho saudades dos meu pais. Sei que eles estão preocupados comigo. Sinto o desespero a dilacerar-lhes a calma. Mas sei, como eles sabem, que a felicidade está no vento, que a felicidade está no empenho.

Obrigado, pais. Amo-vos. Voçês estão no meu coração.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Deserto


No deserto, as praças e as ruas são rios de areia, que atropelam as montanhas e os sentimentos. No deserto, os edifícios são castelos imaginários de grandes proporções, que albergam doentes com desilusões. No deserto não existe magotes com facas nem soldados com metralhadoras. No deserto, o beijo dos Deuses é um mimo que não encontramos nos eventos da cidade. No deserto é tudo tão perto, é tudo tão distante.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sugestão


Cresceu em Cádiz e licenciou-se em Arquitectura, em 1971. Catedrático de Projectos na Escola de Arquitectura de Madrid desde 1986. Já deu conferências sobre a sua obra por todo o mundo. A sua obra foi amplamente divulgada e publicada nas revistas de arquitectura mais importantes do mundo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Coincidência


Vou visitar um amigo do peito. Já algum tempo que o meu coração não o abraçava e que a minha boca não se admirava com o seu pensamento eloquente. É das poucas pessoas que os meus olhos fixam e sugam toda a essência do mar, como se a minha locomotiva procurasse o vulcão sempre com luz, "O nosso sentimento pousa nas almas que fogem de nós. Mas haverá uma tarde que ele chorará com a imaculada. E...", no apartamento superior ouve-se uma trovoada de gemidos, E quando a encontrar, será isto...", e rimo-nos como uns perdidos.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Problema


De perna cruzada, as esplanadas conversam sobre a sociedade, com passagens sobre o além. Mas quando um incauto fala de trabalho, os pássaros esvoaçam para outra cidade.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Parabéns


As doze badaladas saltam nos sinos da igreja, onde as pedras repousam a cabeça no passado. Inspiro-as e sorrio, como se o sol me mordesse as faces tristes. E quando o meu vazio perde o peso do flagelo, empurro o muro de vidro e sopro para a noite, "Parabéns. Tudo de bom", "Ó meu, caluda. Quero dormir", "Cortem o pescoço ao tipo", "Quem grita?", e a rua acorda com alvoroço. Encolho-me e fujo para a cama.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Paraíso


Calcorreio as memórias da cidade, com a corcunda a pensar na noite. Porém, pouco antes de pisar a Praça do Município, onde o púlpito lança regras, as minhas pernas encostam-se ao vidro de uma agência de viagens, "Olha, o paraíso!", murmuro suavemente, "Tu és o paraíso, caro amigo", arregalo a melancolia e perscruto a rua. Junto ao deserto, que está nas minhas costas, encontro um amigo,"Os teus olhos estão cheios de defeitos e de qualidades, como é natural. Mas a tua alma vive no céu", penteia o cabelo encaracolado com os dedos grossos, "Não penses que os outros são o mundo e que tu és a porta, porque na verdade tu és o universo e os outros são a desgraça", sorrio e mexo os dedos com genica, como sentisse pudor a fervilhar na emoção, "Não tenho palavras", "Eu também não tenho sentimentos para te descrever", e abraçamo-nos que nem os anjos.

domingo, 3 de abril de 2011

Crespúsculo

A tarde abre a porta à noite, como se fosse uma escrava da natureza. Sobe as costas do poder e cheira o púlpito, quando a sala azul engole-a com vivacidade. Nesse mesmo instante, o crepúsculo amedronta os fundos da cidade que não pensa. Sorrio e respiro-o, da mesma forma que a tempestade varre os incautos.

Dias assim

Tenho os pés no calor do sol, onde a chama se encontra com a tua.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sugestão


Sente que o novo acordo ortográfico é confuso? Que nunca se vai habituar? Que nem sequer teve voto na matéria? E de que lado ficaria se pudesse, de facto, votar? Até onde estaria disposto a ir? Juva Batella foi longe, e criou uma trama insólita - onde não faltam mistérios, sequestros, assassinatos, suicídios e investigações policiais à italiana...

1 de Abril

1 de abril...divirtam-se, façam um brincadeira a alguém...vamos conviver com o dia das mentiras...mas com respeito, ok?