quarta-feira, 4 de abril de 2012

DE MANHÃ

Acordo com a cara enterrada no pântano viscoso que brotou da minha boca. Junto a ele está o meu companheiro a lambê-lo. Reprovo-lhe a atitude através de um sopro impetuoso. O tipo, a piscar incómodos, abana a cabeça com veemência. Tenta proteger-se da tempestade. Mas a aflição leva-o até ao sobrado, “Isto não é para beber, menino!”, grito com enfado. Como não o vejo, estico o pescoço e movo a cabeça. Os gestos, violentos e irreflectidos, obrigam-me a desequilibrar. Para recompor o equilíbrio do tronco, coloco a mão esquerda no meio do pântano. Digo palavras incultas, dou suspiros nervosos, encarquilho os regos do rosto e desenho anarquias com os braços. Transformo-me num desassossego hilariante. Por isso é que a bola de pêlo fez ironias com o rosto quando me viu, “Tratante!”, pego numa almofada e atiro-a. Não consegui controlar a ira.

Sem comentários:

Enviar um comentário