quarta-feira, 14 de março de 2012

UMA MANHÂ


Os primeiros braços da manhã perfuram os sonhos das cabeças, que mastigam os sorrisos ou as tristezas. As cristas das folhas respiram alegrias, pois já podem sentir a eloquência do sol. No empedrado, os carros estão cobertos por partículas da noite. Fecho a janela. Deixo que a aldeia se vista de luz. Depois de sentar a sonolência na cama coço a anarquia. O cabelo é uma floresta devastada por uma tempestade, pelo menos é o que me diz a parede de vidro. Do outro lado do conforto, sinto um movimento. Olho para esse ponto. De braços a desenhar preguiças no ar, a desconhecida é uma Primavera. Estico o desassossego e toco na ponta da volúpia, “Malandro!”, sorrio. É um gesto que sente a loucura do desejo. Ela pressente que a manhã lhe vai dar muito trabalho. Mas não está com vontade de ser escrava da minha anca. Por isso salta para os fundos do quarto. Fico triste e perco a elasticidade do corpo.

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