domingo, 26 de fevereiro de 2012

CORRENTES D' ESCRITAS


E o pano fecha o mundo das palavras. Os livros, de orelhas descaídas, choram sobre as mesas, enquanto a multidão limpa a tristeza e evapora-se na noite que engoliu a cidade. Ao fundo, a crista do mar limpa as lágrimas do dorso e esconde as memórias nas sombras dos milagres. Ergo os sacos e sobrevoo os abraços que se despedem e pedem para que o reencontro não ultrapasse uma dúzia de dias. Perto de casa, a muitos quilómetros do paraíso, retiro as fotografias da memória e revejo a eloquência das vozes e dos gestos que polvilharam os leigos com reencontros dos porquês. Pouso os livros na secretária, dou beijos sumarentos nos rostos dos meus pais e vou até à varanda. A noite está sossegada. No céu, as nuvens recortam a escuridão como se desenhassem um filme cómico. Rio. Há muito que não me divertia tanto. Mas o frio é uma faca que me espeta na carne. Dou saltos, digo palavrões e meto-me na cama, onde encontro uma folha de papel. Desdobro-a e leio a frase: “As Correntes D’ Escritas são olhos que nos ensinam”, desloco os cantos dos lábios e peço a tudo para me trazer a próxima edição.

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