quarta-feira, 31 de março de 2010

O Tudo Passa A Nada Num Não


Primeiro entranha-se, depois desentranha-se – num período incontável porque depende de indivíduo para indivíduo. E a passagem da ponte nunca é vista como tal. Talvez o amor seja cego e crente ou talvez os nadas sejam vistos como insignificâncias, ou como “perfeitamente normais”. Essa velha resposta de último recurso, que esconde muitos lagartos roxos. Mas a verdade é como o azeite: vem sempre ao de cima. E ela surge sempre na última curva da felicidade, como uma bomba.
Depois, o recurso óbvio é o desaparecimento até nunca, sem antes se abalroarem em palavrões. Independentemente das memórias e dos contratos entretanto estabelecidos.
Mas que ninguém pense que o mundo termina para esses indivíduos; nada de mortes prematuras, meus senhores. Porque ao primeiro desejo, o ombro mais amigo, talvez um fingidor, é agarrado para a macaquice das antigas.
“Enfim, modernices”, como diz a minha querida avó.

terça-feira, 30 de março de 2010


Depois da tristeza, banhada a chuva constante, o sol vive os céus. Ainda com alguma timidez, é certo, mas o tempo lhe indicará a confiança.
E, com ela, o rosto será aceso, como a chama de um incêndio na floresta, em plena secura de amor. E, consequentemente, as rosas beijarão os homens taciturnos que rasgam o planeta.

segunda-feira, 29 de março de 2010

E a crise é uma questão de dívidas


A loucura para estacionar já ultrapassa, em muito, o razoável. Mas, num segundo de inspiração, o silêncio da noite ilumina-nos um meio estacionamento, coberto pela copa de uma árvore. Sorrimos pelo gesto divino e colocamos a metade do carro no descanso.
Dentro do recinto, o barulho é inovador e muito estudado, porque tudo é repetido. É um gesto natural para quem ama a perfeição. Mas os instrumentos entopem sempre numa nota desconhecida. E a música não arranca. Dos lados, o esquerdo e o direito, como os meus braços, cabeças incontáveis mastigam uma feira gastronómica sem respirar. E todas festejam a vida como se ela não trouxesse, aqui e ali, alimento envenenado.
Por fim, as velas apagam-se e o dinheiro das dívidas engorda os proprietários do espaço. E a noite, depois dos últimos passos alegres, mostra-lhes o lado B da vida.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ler


É deste modo que Kafka inicia a história de Gregor Samsa, um caixeiro-viajante "obrigado" que deixou de ter vida própria para suportar financeiramente todas as despesas de casa.
Numa manhã, ao acordar para o trabalho, Gregor vê que se transformou num inseto horrível com um "dorso duro e inúmeras patas". A princípio, as suas preocupações passam por pensamentos práticos relacionados com a sua
metamorfose.
Depois, as preocupações passam para um estado mais psicológico e até mesmo sentimental. Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais perante a sua metamorfose. Apenas a irmã se digna a levar-lhe a alimentação, mas mesmo assim a repulsa e o medo também começam a se manifestar. A metamorfose de Gregor vai além da modificação física. É sobretudo uma alteração de comportamentos, atitudes, sentimentos e opiniões.
Gregor passa a analisar as coisas que o rodeiam com muito mais atenção. Outra metamorfose ocorre no seio familiar: o pai volta a trabalhar, a irmã (Grete) também arranja um emprego e passam a alugar quartos na própria casa onde habitam. As atitudes dos pais perante o filho retratam ao leitor a idéia que este era apenas o "sustento" da casa. A metamorfose de Kafka não conta apenas a história de um homem que se transformou num inseto. É sobretudo uma história de alerta à sociedade e aos comportamentos humanos. Nesta história, Kafka presenteia-nos com a sua escrita sui generis, retratando o desespero do homem perante o
absurdo do mundo.
Interessante perceber que em nenhum momento da obra Gregor se dá conta realmente que se transformou num inseto. Apenas observa seus novos membros, órgãos e hábitos, mas com o tempo se acomoda na nova condição sem realmente entender no que se tornara.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Condomínio Com Abismos


Sopro uma fúria pelo barulho das contas, vindo dos degraus que assistem às ameaças humanas. É sempre assim, quando as contas do condomínio estão a beber café com o diabo, numa calma desumana.

terça-feira, 23 de março de 2010

A Noite, Depois de Adormecer


Verifico que a noite não serve para viver. Apenas serve para sentir o respiro a afundar-se num adeus profundo, para lá do planeta.
E é aí que todos se encontram: os vivos e os mortos, numa união de mimos clandestinos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sou Um Vento


Sou um vento que não voa,
porque a morte não me deixa
sair para o calor do teu colo.


Sou um vento que escarra as últimas
gotas de vida.


Sou um vento que já não existe.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O Santo do Meu Avô


O santo do meu avô vive numa nuvem branca, a pairar pelo azul muito intenso do céu, porque o seu corpo, em vida, beijava constantemente a felicidade da amizade.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Coisas


Um rico que nasce pobre sente que quantas mais coisas tiver mais amor alheio irá ter. Nada mais, nada menos, como uma verdade verdadinha.
Onde está a flecha para os abater?

terça-feira, 16 de março de 2010

A Morte dos Outros


Para muitos, os que convivem com a deselegância de pensamento, a morte de indolentes com dinheiro amarrotado no colchão é uma satisfação colossal, como se a lua amarasse as estrelas à cintura de uma necessidade. Porque as contas sussurram-lhes os ouvidos cheios aos dias cinco de cada mês, até ao fim dos respiros dos corpos, até ao último olhar.
Não admira que assim seja, já que a posse das coisas, das coisas, e mais coisas, é como uma urgência de comer: imprescindível.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Bolor


Estou sentado no chão, coberto por farrapos nauseabundos, sarapintados por nódoas de bolor que encobrem a ferida provocada pela vida descuidada…

sexta-feira, 12 de março de 2010

Para O Meu Pai


O meu pai está reformado. E bem, diga-se. Porque o lombo dele é uma tábua repleta de cicatrizes rosadas, que contam memórias com piada. Pelo menos, para quem está de ouvidos arreganhados a captar a voz concentrada em pormenores. Embora, por vezes, o cansaço entranha-se nesses ouvintes e os obrigue a refugiarem-se num atraso para um encontro, porque a voz tem sempre sede, tem sempre alimento para mais um se.
Mas como dizia, o meu pai está reformado. E o tempo para ele ganhou uma dimensão gigantesca, ladeado de muito sol e de muita noite. Mas a noite respira-se num simples bocejo, acompanhado por um piscar de olhos muito rápido; mas o dia é um mar por navegar sem bússola para o orientar. Temi que se afundasse, ao largo de um adeus eterno. E por isso, os meus dias eram uma espécie de arma que me bordejava o corpo.
Enganei-me, como se as ruas da minha cidade fossem anónimas como as tuas, porque o mar transformou-se em rio e o rio numa simples nascente. E o que parecia inevitável afundou-se num local sem nome, como num terreno baldio; e o que parecia impossível brotou das trevas intensas para os livros didácticos e literários.
Deixo descair uma lágrima para o regaço e sorrio intensamente, e penso, “a felicidade está em pequenos gestos.”

quarta-feira, 10 de março de 2010

Todos Pela Voz


Paulo Rangel, Aguiar Branco e Pedro Passos Coelho, todos por uma voz despegada do poder. Haverá mais tipos? Apenas afirmo especulações que não interessam à certeza e a nós, amantes da verdade. Ao contrário dos sanguessugas que tudo sugam para descobrir o silêncio imaculado.
Retirando estes floreados, completamente agarrados ao vazio e à insignificância, brota uma necessidade para o mal: disponibilidade para mudar, com originalidade. Sem isso, a voz do poder ficará mais perto das trevas.
Será que estes guerreiros têm carcaça para tal?

terça-feira, 9 de março de 2010

Devaneios


Bocejo como um camaleão esticado ao sol, alongando muito a língua até próximo do exagero. Depois da limpeza do sono, inverto lentamente a cor da minha estátua. E volto, com um sorriso acolhedor.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Frio

Hoje, domingo, o frio ameaça qualquer vivo a viver definitivamente num deserto sem nome. Eu estou prestes...

"O dinheiro é democrático, se necessário, e ditatorial", Um Homem: Klaus Klump, de Gonçalo M. Tavares

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sugestão para o Arejo


As Vampiras Lésbicas de Sodoma de Charles Busch

Encerramento do FAMAFEST

Companhia Teatral do Chiado Teatro Comédia

20 de Março, Sábado, 18h00, Casa das Artes - Vila Nova de Famalicão

Entrada:livre M/12 Duração:90 m


Com As Vampiras Lésbicas de Sodoma, a Companhia Teatral do Chiado orgulha-se de apresentar ao público português uma das mais originais figuras do showbizz da actualidade: o dramaturgo, actor, estrela de cinema, artista e romancista Charles Busch.Foi com As Vampiras Lésbicas de Sodoma que Charles Busch se tornou famoso, corria o ano de 1984. O pequeno Limbo Lounge, em Nova Iorque, onde o espectáculo estreou, ficou minúsculo, havendo quem assistisse à farsa de Busch nas mais inconcebíveis situações, incluindo a de ficar no átrio a olhar para um ecrã de televisão. Depois as Vampiras passaram para um teatro mais a sério e... ficaram cinco (5) anos em cena!O sucesso explica-se. Numa época dominada pelo espírito da paródia pós-moderna, Busch inventa uma história vertiginosa que começa nos tempos bíblicos, em Sodoma, e acaba na sala de ensaios de um "musical", nos nossos dias. Inaugurando um processo que veio a durar vários anos, o próprio dramaturgo brilhou no espectáculo ao representar o papel de uma das deslumbrantes protagonistas!As Vampiras Lésbicas de Sodoma, trazem ao palco um pequeno delírio de teatro popular onde o imaginário das histórias de terror se mistura com o glamour decadente do mito do Parque Mayer e o universo exacerbadamente sexual dos shows de travesti. Mas no centro de tudo está o combate feroz entre as duas vedetas, sedentas do sangue que lhes garante a eternidade e envolvidas numa competição estranhamente parecida com a rivalidade ciumenta que é típica entre as grandes divas do cinema.Por tudo isto, a Companhia Teatral do Chiado faz ao seu público uma sugestão bem simples: venham ao teatro, divirtam-se enquanto vêem uma magnífica comédia, mas... não se esqueçam de proteger o pescoço!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Filmes


Filmes e mais filmes, quase em todo o lado, como um respiro sempre presente. E todos os vêem nos seus refúgios, que por vezes são universais, com os olhares presos às lágrimas falsas que tentam parecer verdadeiras. Como o mundo. Ou não?

quarta-feira, 3 de março de 2010

Romance que escrevo e que ainda não tem título - parte V


Já a noite levanta-se do repouso, estremunhada pelo dia mal dormido, quando introduzo a chave na fechadura do meu apartamento, com o coração a pulsar na boca. Rodo a maçaneta da porta e empurro-a devagar, num gesto simples e mecânico, destapando os primeiros objectos do meu lar, sob o olhar atento e terno do meu companheiro, sentado na inseparável poltrona, ao lado do luxuoso e ornamentado candeeiro de pé, que jorra luz ténue para o espaço minúsculo e acolhedor da sala. Imobilizo, retraio-me, envolto na perplexidade das incertezas, assim que o vejo ligado, pois tenho a convicção de o ter desligado. E inundado de dúvidas, procuro respostas, nos objectos plácidos, deambulando o olhar. Pouco depois, com elas, reformulo a minha convicção, a minha certeza, desprendendo-me do medo, do receio que me bloqueou os músculos, e volto ao gesto simples e mecânico, destapando mais objectos. Nesse mesmo instante, uma voz firme, forte e rouca, eleva-se. “Boa noite, meu velho, são horas?”. Estremeço pelo imprevisto e, por causa dele, embato na ombreira da porta, com alguma violência. “Não tenhas medo, sou eu”, repetiu a voz. Aturdido e, no meio do embaraço, reconheço o som. “Ah, és tu. Podias ter avisado, quase me matas de susto”. “Até não seria má ideia, pois não? Mas pensando melhor, é preferível ver-te espernear pelos cantos.” No meio dos sorrisos da personagem, recomponho a postura, a atitude medíocre do imprevisto, e entro, mergulhado em suores; num gesto firme, preciso, fecho a porta bruscamente com determinação e empenho. “Entrarás em despesas se continuares a insistir na força. Quem te avisa teu amigo é”, “Para amizade, é necessário músculo e vontade”, “Desfaço-me em gargalhadas se continuares. A idade deveria fortificar a tua maturidade. Não entendes que a amizade é uma urgência para quem aspira a algo? Tudo o resto, são meros pontinhos de cumprimento.”, “A mediocridade mental foi sempre o teu ponto forte”, remato com violência, enquanto me aproximo da poltrona real do meu camarada. Ao pé do púlpito, num gesto afável e delicado, embrulho a alteza com as minhas mãos e afago-lhe calmamente o dorso. Exulta o efémero com o lento espernear de patas, com os olhinhos fechados, numa melancolia extrema. Diverti-mo a contemplá-lo. “As minhas conquistas falam por si, são a resposta inequívoca do meu empenho…”, “Tens uma arma e usas contra o corpo de anónimos a teu belo prazer, sem te preocupares com os danos provocados, isso sim”, interrompo-o, “A que arma te referes, meu velho?”, “Os teus afeiçoados, essa corja nojenta. Não és capaz de seguir um rumo honesto, com transparência, longe das habilidades dos amigos”, e dito isto, solta-se uma lágrima, uma pequena e lívida lágrima de dor, de angústia, que escorrega lentamente pelo rosto, contornando todos os ângulos necessários, e solta-se uma lágrima cremada pela desilusão. Desprende-se um pudor arrogante, uma imaturidade exagerada pela lágrima derramada, incontrolável, exageradamente incontrolável, e sento-me na poltrona de veludo para o derrubar, experimentando o sentimento soberano do cadeirão, depois de colocar a bola de pelo no chão. Daí, confortavelmente instalado, ouço o silêncio a sobrevoar o compartimento; as palavras contidas, presas, fixas à laringe e nenhum pensamento, nenhuma ideia surge. E o vácuo cobre-me literalmente, abraça-me por infinitos segundos, por instantes, que parecem eternos, longos, como a noite de uma insónia, como a noite de um pesadelo; e o vácuo envolve-me até à imobilidade profunda do meu olhar a um ponto indefinido, por causa do nevoeiro pardacento. E ouço o silêncio a sobrevoar as duas cabeças efervescentes, presas a corpos estáticos, hirtos, agarrados, cada vez mais agarrados, às sombras elásticas dos moribundos. Mas a luz, aquela luz, a luz dos sorrisos e do pulsar saudável do coração irrompe, invade-nos como um beijo ternurento, com o silêncio a ser quebrado pela criatura maléfica, ao colocar-se de pé, numa agilidade fascinante. De costas voltadas, com o vasto cabelo ainda a deslizar até aos ombros, próximo da lareira metálica e ferrugenta, mascarado numas vestes negras e arrepiantes, fixa o quadro defronte: uma maravilhosa praia coberta pelo cinzento da tempestade que se aproxima. “Tenho direito a várias coisas e tu sabes. Espero poder recebe-las em breve. O temporal virá se demorar”, altivo, liberta vagarosamente as palavras, numa calma incaracterística. Amedronto-me e tremo com o impacto do frio, do conteúdo gélido desferido por aquela boca imunda, repugnante, incorporada em cremes hidratantes, em rímel e sombras escuras, incorporada num corpo desfigurado pelas tatuagens e pelos percings que afiguram caveiras e bandas de música. E eu amedrontado, amedrontado como se a morte me tivesse tocado levemente no ombro e sussurrado ao ouvido palavras que exigiam a minha presença, e eu amedrontado por causa da exortação, da advertência do terrorista, e eu amedrontado por não ter alternativas, por não ter escolhas: sem um talvez ou quem sabe por este trilho a coisa resolvia-se, e eu amedrontado, apavorado, estremecendo em solavancos fortes e horrorosos, e eu amedrontado, aterrado, espetado no meu canapé a sofrer. E o meu companheiro, pressentindo que um tormento me consome, me suga a alegria e a boa disposição, salta para o meu regaço de pelo eriçado, miando, miando cada vez mais alto, mais alto, atingindo níveis ensurdecedores, de olhinhos arregalados, furiosos, abatidos por me ver nesta frágil condição, com as unhas desdobradas, prontas a combater e a desfazer a minha tortura: essa maldita pedra enfiada no meu sapato. Sorrio levemente pela coragem de colocar o corpo à disposição das balas sem colete protector; sorrio pelo gesto simples de um amigo eterno, mas incapaz de me proteger contra o canalha que me ameaça e se depara ali, a poucos metros de distância, separados por um espirro mais forte, a mover-se na direcção da porta do adeus, de sorriso estampado no rosto. Junto dela, coloca a mão na maçaneta e, num gesto sereno, abre-a na totalidade. De costas voltadas, com a mão esquerda colocada na ombreira e a mão direita desaparecida nas vestes, “Estamos conversados, meu velho”, atira-me com brutalidade e desaparece. Cruzo os braços contra o meu peito, descaio a cabeça, fecho os olhos e afogo-me, e sufoco-me em complexos soluços e em desesperadas lágrimas. Pouco depois, com o corpo dorido, cansado, enclausurado na nostalgia fétida, banhado em dor, desespero, irritação, abandono o meu corpo e nado para os sonhos soalheiros, paradisíacos, afastados do beijo do diabo.
sujeito a mudanças

terça-feira, 2 de março de 2010

Pedro Sena-Lino


Os que estiveram na Biblioteca Municipal de Gondomar na sessão do dia 13 de Fevereiro, durante a apresentação da obra “333”, “passaram” de meros ouvintes para (quase) escritores, colaborando activamente com o escritor Pedro Sena-Lino naquilo que, concretamente, se tornou numa acção de formação.
A sessão contou com a presença do Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Gondomar, Fernando Paulo. Mas coube à técnica Liliana Pires fazer a apresentação de um autor que, destacou, “escreveu o seu primeiro romance mantendo, na obra, a mesma lógica de poesia de edições anteriores”.
Pedro Sena-Lino instou os presentes a escreverem sobre desconhecidos com os quais se cruzem todos os dias. E, daí, partiu para uma análise das soluções que adopta quando escreve. “É que basta olhar pela janela para se começar a escrever...”, salientou. Esta solução de escrever sobre desconhecidos, esclareceu, “é uma forma, ou vício, de inventar biografias... um exercício que, depois, me leva até personagens fictícias dos meus livros. Admitindo que teve pronto a ser editado um outro romance – que seria o seu primeiro... – Pedro Sena-Lino confessou que se recusou a avançar. “Aquele não poderia ser o meu primeiro livro...”
“333”, de Pedro Sena-Lino, é a primeira experiência no romance de um autor que, até esta altura, centrava a sua produção na poesia. Nesta obra é contada a história (até então secreta) de um livro e de todos os que o leram. Ou que, pelo menos, passaram pela sua vida.Composto por um conjunto de micro-contos, pequenas peças de um mosaico elaborado e imaginativo, “333” trata-se também de uma viagem pela geografia e pela história – já que o leitor atravessa séculos e imensos espaços geográficos (desde Portugal ao Novo Mundo) passando um pouco por toda a Europa, até um final revelador e surpreendente. Que revela que, como quase sempre, e no centro de tudo, está uma história de amor.Pedro Sena-Lino já tem sete livros editados. É formado em Estudos Portugueses e é crítico no jornal “Público”. Desenvolveu (e dinamiza desde 2000) um curso de Escrita Criativa. Já em 2005 fundou a “Companhia do Eu”, um centro de escrita e criatividade.
De referir que após esta apresentação/acção e formação, Pedro Sena-Lino ainda proporcionou uma breve sessão de autógrafos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Não Sei O Que Sinto


Não consigo expressar o que sinto. Penso que não existem palavras, nem mesmo imagens, que descrevam a felicidade do meu interior marcado pelas desilusões. Penso que o homem ainda é um ser infeliz por isso. É certo que os génios executam o seu trabalho perto do perfeito, mas não junto à perfeição. Adiante e esqueçamos o namoro com as lágrimas.
Como disse, não consigo expressar o que sinto. Porque a minha felicidade é tão grande que não cabe numa memória como a minha. O motivo? Simples: os livros, as palavras, os escritores e o contexto. Tudo é magnífico, tudo é belo. Nada a apontar. As correntes d’ escritas é um sonho que tive a felicidade de poder embarcar. E não quero sair, não quero sair. Meu Deus, não quero sair!
Amigos, sinto-me esgotado por tanta alegria, que até o meu coração me dói. Amigos, as palavras são tão belas!