sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

MÃOS


Depois do almoço, as pernas debruçam-se na varanda e apanham sol. O dia está quente e as nuvens são apenas lembranças. No asfalto, os cães estendem o cansaço e bocejam como os doentes do sono, “Ó Silva, não te esqueças da bejeca”, “Está prometido, caro amigo”, o senhor Jaquim, homem forte e obeso, calcorreia o sossego. Quando lhe envio as ditas palavras, o manhoso, de olho esticado, aponta-me o dedo indicador e diz-me: “Se falhas, levas! Já sabes”, sorrio, enquanto ergo as mãos, “Ó home, está prometido, está prometido! Não há que enganar”, “Assim é que se fala, carago!”, mas perco o sorriso, porque vejo a velhice a dilacerar-me a pele. Escondo as mãos e tento assobiar.

2 comentários:

  1. As memórias povoam a pele, criando montes e vales de emoções...e são elas os traços distintivos de todo o ser. Muito bom Sílvio. Um Xi.

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  2. é verdade, limalimão ;) obrigado, uma vez mais ;)

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