sábado, 27 de abril de 2013

CIDADE

A luz do crepúsculo pinta o rosto dos prédios. Porém, a base das construções dança com as sombras.

SIMPLES

A dor de hoje será amanhã alegria; nada existe que escape à transfiguração.

LIXO

O lixo sai de casa e repousa no aterro onde é tratado e transformado, ninguém se preocupa com os contentores ou os carros da recolha ou os homens que o transportam. Mas é esse lixo residual, esse que se agarra às paredes e às mãos, a diferença entre o produzimos e o que tratamos.

MÃO

Antes que a igreja anuncie o horário que marca no relógio, colocamos os pés onde a decadência e a desilusão vivem no mesmo quarto. No centro da praça está uma mão de pedra que nos convida a pousar a fadiga nos assentos. Aceitamos a cortesia, mostrando-lhe a ternura dos sorrisos.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

SUGESTÃO

Publicado no ano da morte do autor, este romance foca o progresso da burguesia e a consequente decadência da nobreza. As personagens são, em geral, vagas, sem definição psicológica, servindo principalmente como elemento estrutural do conteúdo. A sequência temporal é evidente e marcada pelas várias circunstâncias que vão constituindo a ação, com as personagens perfeitamente integradas, desempenhando as suas várias funções e dando-nos a conhecer os seus pensamentos.

LÁGRIMAS

As lágrimas do céu entristecem o velho, o homem que vê o filho a perder o brilho da alegria porque o amor se transformou num ácido mortífero. Nem as palavras da Primavera, que fazem brotar das flores o beijo do paraíso, lhe retiram as sombras do pensamento. Mas o futuro irá mostrar-lhe que a decadência não é boa para o coração.

GOVERNO

E a sujidade do céu continua a escurecer os movimentos da cidade, contrariando as notícias dos jornais; e o vento, que parece a cara dum monstro, continua a varrer a pacatez e a ociosidade dos que foram colocados no desemprego. A Primavera, onde os pássaros cantam cantigas sorridentes, continua escondida num sítio medonho. Por isso é que o governo, vestido com a cor da democracia, legisla tristezas que a constituição rejeita.

PERGUNTAS

Saio da sala do cinema e cruzo-me com perguntas que me obrigam a parar. Como elas são persistentes, uso a voz para lhes dar uma resposta: "É mau!", e prossigo. Pouco depois ouço a tristeza a pedir aos funcionários a devolução do dinheiro.

terça-feira, 2 de abril de 2013

AMOR

As mãos do casal desenha um sentimento, que é mais bonito do que as cores da Primavera.

PENSAMENTO

As estrelas picam o queijo pardacento e obrigam-no, como quem ofende, a fugir da noite. A memória que eu tenho das nuvens cresce, intensifica-se e transborda quando o alguidar do cérebro se transforma numa mosca. Felizmente, a luz que vem do céu empurra-me para outros pensamentos.