segunda-feira, 12 de março de 2012

QUINTA


A tarde respira os últimos suspiros e as galinhas esticam a preguiça. De quando em quando, o peito do galo acaricia as costas das meninas. A velhota, que é uma amiga do meu coração, dá-lhe uns bufos e atira-lhe uma escarradela grossa. O tipo, de olhos satisfeitos, levanta o bico e vira-lhe a repugnância. Perante tal comédia, os meus dentes constroem Primaveras. Há muito que não sugava um filme tão eloquente. Indiferente a isto, o gato pousa o cansaço na pedra e coloca a boca no leite. Aos poucos, o prato de inox fica com a solidão a mordiscar-lhe o nariz. Na rua, os cavalos levam os bojudos para as quintas que proliferam ao longo do monte, onde os ventos namoram com as árvores. Por fim, a noite crava-se na crista de todas as coisas. As estrelas, do tamanho de olhos, agarram-se às almas que saíram dos corpos adormecidos e dançam uma dança dos sonhos. Sorrio. Gosto de ver estas coisas. Quando o frio coze-me a carne, vou para o quarto e tiro os pés do chão.

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