sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ler


Neste romance, Coetzee oferece-nos uma profunda meditação sobre o que faz de nós humanos e o que significa envelhecer, reflectindo no modo como vivemos as nossas vidas.
Como todas as grandes obras literárias, O Homem Lento levanta questões mas raramente oferece respostas. Em consequência de um acidente, Paul Rayment altera a perspectiva que tem da vida e começa a dedicar-se ao género de preocupações universais que nos definem a todos: O que significa fazer o bem? O que é que nas nossas vidas é, em última análise, significativo? É mais importante que alguém nos ame ou que alguém se interesse por nós? Como definimos o local a que chamamos «casa»?
Na sua voz lúcida e firme, Coetzee debate-se com estas problemáticas.
O resultado é uma história profundamente comovedora, sobre o amor e a mortalidade, que deslumbra o leitor em cada página.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Saíam da Frente


Quando a necessidade me sacode a carteira, vou espreitar as montras que espreitam a alvorada a pentear a brilhantina do mar. Não tenho muita paciência para estes afazeres, mas há coisas que não podemos fugir. Porém, o meu desdém ao inerte é autêntico.
Subitamente, um trovão enrouquecido rasga-me o frete. Arregalo as dúvidas e viro o corpo para a estrada. Aí, a esbracejar gemidos dementes, um transeunte rebola dores junto às rodas do carro, que sacode os cavalos para uma nova aceleração. E depois desaparece, quando contorna o obstáculo moribundo. Fico perplexo pelo gesto, mas alguém me sussurra aos ouvidos que nas ruas correm elefantes sem olhos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

José Cardoso Pires


Faz hoje 12 anos que o José Cardoso Pires faleceu. Por tal facto, coloco os joelhos no sobrado e espirro desilusões, porque a literatura portuguesa desde então não é a mesma.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Carinho


O quarto está escuro e o telefone está silencioso, mas eu grito surdamente um nome que dorme por entre os trópicos. Páro a anarquia escondida e repouso sobre a noite. E de repende, como por magia, o mar lembra-me que o carinho é a sobrevivência da alma.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ler


A cidade foi crescendo para as margens e os blocos de vidro e betão ceifaram as moradias e os quintais dos arrabaldes. A casa do narrador - casulo protector cheio de passado - é, na verdade, a única que resiste, mas está irremediavelmente condenada à extinção.

Enquanto recebe a visita da agente imobiliária que se ocupará da venda, este homem adulto e sozinho recorda o que foi a sua vida nesse refúgio - a superprotecção das mulheres, o carácter fantasista e megalómano do pai, a relação simbiótica com a irmã, as atitudes intempestivas do tio mulherengo mutilado na guerra colonial que ensaiou o próprio velório aos vinte anos, a loucura do professor que lhe dava lições particulares.

Nenhuma das suas figuras de referência o preparou para a emancipação - todas, pelo contrário, o incompatibilizaram com a vida comum. E, porém, Vergílio não está só no seu destino, porque a recapitulação dos dramas vividos pela sua família de geração em geração é, afinal, o eco do drama colectivo da Humanidade - e, ao mesmo tempo, um abrigo espiritual que substituirá a casa que está prestes a abandonar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Teatro


‎"O PORTUGUÊS VOADOR", para o dia 22 já está esgotado. o nervoso aumenta ;)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Agarra-te à vida"


Os meus dentes tremem de frio e o meu ranho são estalactites dentro da gruta que respira. Todavia, a minha massa sem pensamentos flanqueia a dança do frio, nesta praça com noite. Sensivelmente a meio da solidão, salta-me à vista um papel que se espreguiça ao lado da estátua insolente. Travo o movimento até o estancar e depois apanho o mistério, desdobrando-o, “Não vagueies no incerto, transeunte. Agarra-te à vida”.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Português Voador


Não se esqueçam de aparecer. Ah, e tragam um amigo também ;)

O cubo com palavras


Os cubos revestidos a palavras adormecem no passeio, quando a noite lhes cobre com o algodão os lombos com histórias. Olho para eles e prolongo o canto dos lábios até estes tocarem nas pontas macias das orelhas, ao mesmo tempo que conduzo a máquina com botões, numa veemência que faz lembrar um avião.
Depois de arrastar as árvores da praça com a minha correria diária, pouso o cansaço nos lençóis. E antes de adormecer, a porta do meu quarto estremece ligeiramente, “Sim”, digo, e ela abre-se. Mas a escuridão transforma a massa num mistério, “Quem está aí?”, a coisa mexe-se um pouco e esgravata na parede. Encarquilho a preocupação, com os ouvidos a cheirar o ar. E do ar, a luz do candeeiro rasga-me as sensações, “Olá filho, tens aqui uma caixinha com palavras”, e ergue-me o sentimento. Arregaço o choro e atiro-me ao meu amor para o beijar.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Penafiel


Este fim-de-semana a magia da Agustina Bessa-Luís esteve em Penafiel, acompanhada por quem a ama e por quem admira. É certo que ela não esteve presente, pois as doenças são despegos das vontades, mas o calor das suas palavras espalharam-se pela cidade e pelas tertúlias, realizadas no magnifíco museu, que foi desenhado ...pelo saudoso Fernando Távora.
Um bem haja à organização. E que venham mais Escritarias.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ler


Juan José Millás actua neste livro como um mestre das distâncias curtas. Cada um destes textos, breves como um clarão, ilumina um segredo, revela um mistério, provoca uma pergunta. Todos, sob essa escrita rigorosa e veloz, escondem uma surpresa. Inimitável mistura de humor, pânico, ironia, nessa atmosfera entre realista e onírica que caracteriza a escrita de Millás. O misterioso espreita-nos ao virar da esquina, no interior de nós próprios. Mulheres grandes que sonham com homens diminutos. Manequins que transpiram. Frangos que vão do mercado para casa, mas que jamais aparecem na mesa. Mentiras que se transformam em realidades inexplicáveis. Fósforos velhos que iluminam salas antigas. Pequenos mal-entendidos que dão lugar a perguntas fundamentais. Delírios sensatos. Bom senso delirante… Este é o mundo de Juan José Millás.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Beijos


Na praia, as ondas bailam com as gaivotas uma valsa perfeita. Ao lado, a maresia assiste maravilhada, agarrada aos silêncios para saborear o momento. Mas dentro daquelas pedrinhas, que se encostam ao restaurante dos ricos, duas criancinhas comem cabeças de sardinhas, sem o mimo de uma mão protectora.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A NOITE COM EXPLICAÇÕES


A noite vai alta. Está mesclada com muitos pontinhos branquinhos, que parecem miminhos do dia à noite. Mas os meus passos são facas que desvendem segredos. Por isso, salta do incerto um algodão pardacento, como se fossem bafos de explicações da união. Abrando o passo e estanca-o, quando o trovão rasga a dor com beijos e ouve-se o murmurinho do amor a baloiçar.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Talvez


Da morte nunca ninguém voltou. Talvez seja um sítio sem saída. Ou talvez tenha, e várias, mas a solidão dos mórbidos talvez cegue o instinto. Gostava de a conhecer. E também gostava de voltar para te contar como se deambula por aquelas veredas, como se palra por aquelas praças. Porém, tenho medo de deixar os meus ossos no depósito ignoto e de nunca mais voltar, porque os sorrisos do respiro são como namoros imaculados.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tu estás aqui


Resguardado sobre a escuridão do quarto, penso no rio com margens de amor, como se não houvesse nada mais formoso do que o sentimento imaculado por um perímetro tão divino. Verto sensibilidades que nem o poeta moribundo e agarro-as com os braços dos beiços, que se esticam para lá do possível. Pouco depois, quando o deserto sacode a humidade, pouso o turbilhão de ideias no lençol que me ama e adormeço, “Tu estás aqui”, de sorriso preso no teu olhar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ler


Uma mulher cai do céu durante uma tempestade tropical. As únicas testemunhas do acontecimento são Bartolomeu Falcato, escritor e cineasta, e a sua amante, Kianda, cantora com uma carreira internacional de grande sucesso. Bartolomeu esforça-se por desvendar o mistério enquanto ao seu redor tudo parece ruir. Depressa compreende que ele será a próxima vítima. Um traficante de armas em busca do poder total, um curandeiro ambicioso, um antigo terrorista das Brigadas Vermelhas, um ex-sapador cego, que esconde a ausência de rosto atrás de uma máscara do Rato Mickey, um jovem pintor autista, um anjo negro (ou a sua sombra) e dezenas de outros personagens cruzam-se com Bartolomeu, entre um crepúsculo e o seguinte, nas ruas de uma cidade em convulsão: Luanda, 2020.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Lembra-te


Não tenhas medo, navegante do mundo. Em todas as histórias há sempre uma ponta do paraíso.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O frio


Sinto o cheiro do frio a morder-me as carnes estremunhadas, como se fossem navalhas a dilacerarem-me as vontades. Mas os cobertores da cama abraçam-me a pele de galinha, transformando o meu desespero numa memória muito verde. Sorrio, dando pulinhos muito estridentes e muito pequeninos, pelo facto, que nem um infante lançaria ao ar, caso recebesse um presente desejado, e depois vem-me à lembrança uma frase, “E se eu me ocultasse do mundo?”

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os berros


‎"heróis do mar...", grita o meu vizinho, no andar de cima, enquanto que a sua mulher cospe-lhe uns impropérios como gente grande. São um casal esquisito, porque as gritarias são a única forma de amarem o invisível. Mas quem sou eu para lhes criticar os gestos? A democracia baloiça por aí, é certo, mas não podemos meter... a colher nos defeitos dos outros, quando as nossas sujidades transbordam misérias. "...nobre povo...", continua o desgrenhado a berrar, "Seu filho do diabo, vai trabalhar que bem precisas", atiça-lhe a metade do seu desassossego.
"Contra os canhões, marchar, marchar", e depois atira um vivas para a República, como se fossem beijos muito húmidos, "Vai trabalhar, seu grande bói", "Irei a correr, mas antes vou ao escrutínio colocar a minha sugestão", "Ah, está bem", sinto-a cuspir para o chão, "Olha, escolhe o B. O tipo parece ser de ferro".

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O dia


Da janela do meu escritório, vejo as árvores a passearem-se no ar, como duas pombas a namorarem uma discussão. Encarquilho as interrogações pelo fenómeno, mas antes que suspire alguma explicação filosófica, vejo uma moto a gritar por ajuda, seguida pelo dono, que baçoiça um vómito muito azedo. Fico perplexo pel...o surrealismo dos objectos e ergo-me para o peitoril. Aí, com a ansiedade a saltitar nos dedos, arrasto o vidro para o batente. Mas antes de pronunciar um bulício, as lufadas arrastam-me para o incerto.Ver mais

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Estás aí?


‎"A minha alma não é imaculada", troveja o Deus dos loucos, "Mas a minha também não é", sorri o Deus dos calmos, como se a primavera bordejasse o inverno, "Não é? Então quem se agarra à puridade?", "Os camaleões, quando lhes interessa".

Ler


Uma fábula contemporânea e intemporal, um livro sobre vidas em “deriva”, à beiar da catástrofe. [...] A escritora, um dos nomes de referência da Literatura Portuguesa, Prémio Camões 2002, retoma as linhas de uma narrativa marcada pela diversidade linguística e cultural e por um poder ficcional magnífico [...]»JL

«Não há certamente na literatura portuguesa um exemplo tão extremo de carnavalização das linguagens. Mas o seu alcance não é – não poderia ser – meramente formal. O delírio, é também o do mal, em cujos territórios inauditos se aventura este romance desde a primeira página, segundo uma lei que é repetida como uma estribilho: “O sangue puxa o sangue”.»António Guerreiro, Expresso

«A descoberta do amor humano é um assombro, e Maria Velho da Costa prepara o ritual de iniciação com vagares narrativos e uma educação cinéfila que lembra inequivocamente João César Monteiro.»Pedro Mexia, Público