sábado, 31 de dezembro de 2011


espero que tenham uma óptima passagem de ano. que o próximo ano vos traga tudo o que desejam. tudo de bom.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

RETROSPECTIVA


O passado, que principiou em Janeiro, traz-me à memória muitos ventos. Uns são infernos, outros são sorrisos. São simples constatações, simples verdades que unificam todos os vivos: os que pensam que o horizonte não é mais do que um futuro com as mesmas dicotomias, com os mesmos festejos e com as mesmas lágrimas. São simples verdades, simples constatações. O meu futuro é um rumo que não vai por ali, que não penetra no incerto e vira à esquerda para o abismo. O meu futuro é uma locomotiva que me vai levar para as veredas empedradas, onde as palavras estão escondidas numa esferográfica ou no teclado do computador. E o tempo, essa coisa que esfola corpos, irá passar como quem sente que as férias são duas semanas metidas dentro de um dia. Vou ter o sol no meu sorriso? Posso ter ou posso não ter. Tudo irá depender do ângulo do vento.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SUGESTÃO

O regresso


«Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.
Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.»

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

CRIANÇA


Com o estômago recuperado, salto para o sol e dou pinchos nas poças de calor. Despenteio o cabelo mas fico feliz, porque é tão bom libertar a criança que há em nós, “Vamos, malta. Pipipipi. Papapapa. Come a caca que tens no nariz. Pipipipi. Papapapa”, subitamente, o meu corpo transforma-se num guerreiro com azedume às mariquices.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SEGREDO


Como canja e duas sandes de atum. Não quero mais nada. Acho que nos próximos dias não irei comer mais do que isto, “E a fruta, filhinho?”, “Rrrrrr!”, vou à cozinha e pego numa maça. Dou metade ao cão e metade ao pardal, “Que boa!”, “São muito sumarentas, não são? Foram oferecidas pela tua avó”, a minha mãe invade o rectângulo e mexe na máquina do café, “São muito boas. Até vou comer outra”, e mastigo-a, porque a mentira massacra-me a alma.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

LETRIA

estico os ossos e abano a cabeça. vou para a cozinha e vejo panelas de letria. alguém quer provar desta maravilha?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

BOM NATAL


Tenho os pés dentro da água quente e as mãos e as costas embrulhadas em toalhas aquecidas. Pareço um velho. Mas as luzes da árvore de natal aquecem de jovialidades as minhas tripas constipadas. Sorrio e procuro o Vieira, que é um cão que me diz palavras, “Ó Vieira”, as patinhas aguçadas denunciam-lhe logo, “Estás bom?”, estica as patas traseiras, depois estica as patas dianteiras, e olha-me como quem faz perguntas, “Feliz Natal”, lentamente, a cauda deixa a inércia e desenha um sorriso, “Obrigado por seres tão bom!”, pousa a cabeça no meu regaço e adormece, “Por que é que o mundo não é assim?”, suspiro e olho para o rectângulo do computador, “Bom Natal”, digo-vos, dizendo-vos olá com as mãos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

SUGESTÃO

A ação do romance localiza-se em Lisboa em meados do século XX. Num prédio existente numa zona popular não identificada de Lisboa vivem seis famílias: um sapateiro com a respetiva mulher e um caixeiro-viajante casado com uma galega e o respetivo filho - nos dois apartamentos do rés do chão; um empregado da tipografia de um jornal e a respetiva mulher e uma "mulher por conta" no 1º andar; uma família de quatro mulheres (duas irmãs e as duas filhas de uma delas) e, em frente, no 2º andar, um empregado de escritório a mulher e a respetiva filha no início da idade adulta.


O romance começa com uma conversa matinal entre o sapateiro do rés do chão, Silvestre, e a mulher, Mariana, sobre se lhes seria conveniente e útil alugar um quarto que têm livre para daí obter algum rendimento. A conversa decorre, o dia vai nascendo, a vida no prédio recomeça e o romance avança revelando ao leitor as vidas daquelas seis famílias da pequena burguesia lisboeta: os seus dramas pessoais e familiares, a estreiteza das suas vidas, as suas frustrações e pequenas misérias, materiais e morais.

O quarto do sapateiro acaba alugado a Abel Nogueira, personagem para o qual Saramago transpõe o seu debate - debate que 30 anos depois viria a ser o tema central do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis - com Fernando Pessoa: Podemos manter-nos alheios ao mundo que nos rodeia? Não teremos o dever de intervir no mundo porque somos dele parte integrante?

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

CRISE

crise? ela pode estar dentro das cabeças, mas não existe nos bolsos. coloquei o corpo nas entranhas das lojas e saí a morrer. nunca vi tantas carteiras ao vento! puxa! parece que abriram as portas da loucura.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

GRITOS

Ligaram as estrelas e acordaram os malucos, porque ouço gritos. vou ali buscar a vassoura e…e…e…e vou para a cama. não quero cuspir impropérios.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

AO LONGE

Ao longe, os braços do sol penetram no gelo e as árvores sacodem as partículas da noite. Coloco o cobertor sobre as costas e penso que o Inverno é uma tareia dos Deuses.

sábado, 17 de dezembro de 2011

UI!!!

tenho as pernas frias e o nariz gelado. mas a casa está pior do que eu. que raio de paredes! parecem que chupam o dia.

VENHO JÁ

depois dos pontapés que dei no texto, vou apanhar ar. preciso de fresquidão. preciso de colocar os cabelos ao vento. preciso de cheirar o mundo. venho já. não saiam daí.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

SUGESTÃO


Uma armadura vazia chamada Agilulfo protagoniza esta espirituosa paródia da cavalaria medieval, sob a forma de uma história contada por uma freira. Agilulfo corre toda a França, a Inglaterra e o Norte de África para confirmar a castidade de uma virgem que ele salvou, alguns anos antes, de uma violação. Há surpreendentes achados narrativos, e a confissão final da freira não é o menor deles.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SIMPLES

A inspiração encontra-me sempre a trabalhar.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

MENINOS


As cabeças dos meninos pequeninos, coitadinhos, devem estar prestes a explodir: sexo? Mais uma matéria; economias? Mais uma matéria; civismo? Mais uma matéria… E os pinchos com brinquedos? Haverá tempo? Sim, porque, para além das matérias, ainda existe as aulas de piano, as aulas do inglês, as aulas de ginástica, as aulas, as aulas. Ufa! Tantas metralhadoras apontadas. Ah! Já me estava a esquecer: “Tens que ser o melhor da escola!” Essa coisa de ser só o melhor da turma já não é sonante, já não impressiona o vizinho ou a vizinha. As cabeças dos meninos pequeninos, coitadinhos, precisam também de chutar a bola na rua ou de brincar com as bonecas no jardim.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

NOITE


Os sinos da igreja cantarolam-me um horário tardio. Levanto os músculos e vejo a noite. Ao fundo, perto do horizonte, as máquinas com botões ziguezagueiam a montanha, “Vai para a cama”, a voz doce da minha mãe eclode do silêncio, “Já estou a ir”, apago a luz e adormeço.

domingo, 11 de dezembro de 2011

CORRECÇÕES

As correcções continuam. É certo que falta pouco, mas os meus olhos já me pedem para descansar e as minhas mães já me olham com desdém. Não lhes ligo. Tenho que continuar.

sábado, 10 de dezembro de 2011

BIBLIOTECA

Os livros encostam-se às prateleiras e olham para a biblioteca inundada de cabeças.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SUGESTÃO


O espaço da Judiaria Pequena, em Lisboa, em parte já não existe, devido à destruição provocada pelo terramoto de 1755. Mesmo assim, sendo Alfama um bairro de origem medieval, dos que menos sofreu com o terramoto, algumas das ruas referidas na obra são ainda identificáveis.

Berequias Zarco vivia na Rua de São Pedro (na Judiaria Pequena, em Alfama), numa casa que fazia esquina com a Rua da Sinagoga (que não identifiquei, talvez já não exista, ou terá mudado de nome...). No entanto, descobri que na Rua da Judiaria ficava a antiga Sinagoga. Seria a mesma rua?

O que surpreende nesta obra é que, embora imparável de acção, esta história não é ficção – trata-se de uma daquelas situações em que a realidade já é suficientemente alucinante... A história de Berequias está escrita, pelo próprio, num manuscrito encontrado numa velha cave em Constantinopla.

O Último Cabalista de Lisboa era o tio de Berequias, assassinado no dia em que se deu o massacre de milhares de judeus, junto à Igreja de São Domingos. A história desenvolve-se em torno da busca da verdade – quem assassinou Abraão Zarco? E, tão ou mais importante, existe mesmo um Deus que permita que tais horrores aconteçam?

Para Berequias, a morte do tio representa não só a perda de um familiar próximo e muito estimado, mas também o fim de uma fonte de sabedoria inestimável – a cabala, escola filosófica judaica, que na época constituía um importante veículo de instrução. Apercebemo-nos ao longo da leitura que a população judaica de Lisboa era mais instruída do que a população cristã, em que poucos saberiam ler.

Em busca da verdade, na qual se baseia a sabedoria da cabala, consubstanciada na figura do tio, Abraão Zarco, Berequias percorre a cidade de lés a lés, por ruas que hoje já não existem, como as ruas da Judiaria Grande, onde agora está a Baixa, e por outras que ainda conseguimos reconhecer. Vemos os Olivais e Marvila com as suas quintas, Belém e o seu grande Mosteiro em construção, o Bairro Alto e as suas casas nobres, passamos através de portas da cerca fernandina, vamos ao Rossio e ao Largo de São Domingos, ao Limoeiro e à Sé. Assistimos a cenas de terror descritas com uma sensibilidade extraordinária.

O Miradouro de Santa Luzia dá-nos a perspectiva necessária para compreender e abarcar o espaço, mas depois é necessário embrenhar-nos nas ruas e vielas, e com um pouco de imaginação podemos sentir o medo de andar por ali e ser apanhado. Experimentem também os degraus da Igreja de Santo Estêvão, ou então o Largo do Chafariz de Dentro. Como no tempo de Berequias, ali ainda são todos vizinhos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SIMPLES

Sobre a felicidade, a manhã ergue-se da cama e atira os cobertores para a noite. Dá alguns passeios pela cidade e escorraça as sombras a pontapé, “Quero sossego!”, e adormece, porque a tarde desenha-se no céu.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

RICHARD ZIMLER



a biblioteca foi pequena para tantas cabeças. mas o micro levou o pensamento do eloquente para o impensável. obrigado, Richard Zimler.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

RICHARD ZIMLER


Richard Zimler estará amanhã na escola secundária de Paços de Ferreira, pelas 14h. Irei moderar a tertúlia. Apareçam.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SUGESTÃO DE LEITURA


Cosimo, um jovem nobre italiano do século XVIII, revolta-se contra a autoridade paterna, trepando para cima das árvores, e aí vai permanecer durante o resto da sua vida. Adapta-se eficazmente a uma existência arbórea - caça, semeia e colhe, joga vários jogos com amigos com os pés na terra, combate incêndios florestais, resolve problemas de engenharia e até consegue manter casos amorosos. Do seu poleiro nas árvores, Cosimo vê passar os tempos de Voltaire e assiste à chegada do novo século.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

SIMPLES

Os símbolos são palavras escondidas que refletem a essência de uma marca.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

FRIO

Dentro da minha toca está um frio que congela as palavras. Abro o fogão e atiço lume aos toros de madeira. Ao lado, o político fala de austeridade dentro do televisor.