quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

SIMPLES

Em regra, as armas, que são palavras bufadas com rancor, eliminam uma teoria utópica ou um pensamento superficial.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

LUZ

Na estrada, os carros levam os sorrisos para sítios que desconheço. O céu, no entanto, é uma morada do inferno porque os relâmpagos, roucos e duros como uma voz demente, fazem desenhos abstractos nas partes mais negras da noite.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

MÃOS

As mãos do senhor ficam silenciosas quando o pobre pede uma migalha. Mas, ao pé das roupas, pensadas por designers conceituados, a anarquia apodera-se das unhas porque é preciso pagar as contas!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

DIA

As vozes que pedem ao dia um dia brilhante estão mais próximas de perder o fulgor, porque o comboio da vida perdeu mais um dia.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

SIMPLES

Perto dos objectos minúsculos, o crepúsculo é engolido pela noite. Da varanda do meu apartamento, que está a três pisos de altura do pavimento asfáltico, assisto ao acontecimento. O gesto, executado pela natureza, obriga-me a recordar os gestos dos homens. Mas quando as estrelas se acendem, os flagelos dissolvem-se no brilho dos meus olhos. Quase ao mesmo tempo, os candeeiros que estão presos às fachadas dos prédios iluminam os movimentos da solidão, que desce calmamente pela rua. Movo o olhar e espio-o.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

ESTRELA

Não há estrelas no céu. Mas a felicidade, que está vestida de vermelho, trouxe-lhe o sonho: a menina que já não via há meses. Não é portanto de estranhar que o sujeito, calvo e magro como um tísico, tussa depois de ter dado muitos pulinhos. Pelos visto, o dia dos encontros, que é o dia dos namorados, ainda permite estar próximo da emoção.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

DESCOBRIR

Três misteriosos, vestidos com sombras amarelas, almoçam um pensamento. Em volta da mesa está a austeridade que faz de tudo para ouvi-lo. Mas o sino da igreja esbofeteia-lhe o rosto, como se o juiz incriminasse o pecador com gestos violentos.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

LONGE

Ao longe, os braços da alvorada empurram a noite para longe. Por causa disso, o silêncio mergulha na memória das pessoas que colocam os motores a trabalhar.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

TARDE

A tarde é um silêncio que lembra a voz dos mortos. E a preguiça do Jaquim, homem torto e de boca imunda, relembra-me o ressonar do meu avô. Mas os ais dos juvenis, que pisam o cebolo da Maria, que é amiga da cusquice, dão à Primavera um aroma vivaz. O vento, de olho astuto, empurra-o para dentro de mim. Por isso é que o meu corpo é uma ponta da anarquia.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SUGESTÃO

O Crime do Padre Amaro apareceu, pela primeira vez, em folhetins, na "Revista Ocidental", em 1875, surgindo em volume no ano seguinte. Sabe-se, no entanto, como Eça de Queirós apurava de edição para edição as suas obras, alterando-lhes, por vezes substancialmente, o estilo, o enredo e a estrutura. A fixação do texto e as notas desta edição de O Crime do Padre Amaro, assim como de todos os títulos subsequentes, são da autoria da Sra. Dra. Helena Cidade Moura, especialista de reconhecido valor no âmbito dos estudos queirozianos. A versão tomada como base foi a de 1880, última revista pelo autor. Inclui-se também uma carta inédita de Antero de Quental, cujo manuscrito autógrafo incompleto se encontra na posse da família de Eça de Queirós e que nos foi amavelmente facultado.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

PAISAGEM

O pároco dá um bocejo preguiçoso. A paisagem, silenciosa e metida na sua sesta, investiga a descortesia. Mas o cansaço não lhe permite tirar conclusões. Por isso é que o crepúsculo inunda o horizonte.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

CALMA

no céu está uma estrela que te olha. por isso não te preocupes, vive a tua vida sem preocupações.