quinta-feira, 19 de abril de 2012

DIFERENÇA


Dentro do café, os homens olham para as unhas. Alguns também fumam. A empregada, de curvas salientes, está sentada nos barris de cerveja. Tem um rosto bonito e incomum, porque as sardas, com diâmetros exagerados, dão-lhe características peculiares. As íris, pintadas a azul-bebé, e as sobrancelhas, volumosas e eriçadas, ajudam a reforçar a estética da porcelana. Por detrás da parede de vidro, as nuvens, carregadas de humidade, escondem o azul do céu. A cidade, de regresso a casa, fica pardacenta e perde o perfume da Primavera. Daqui a pouco, as lâmpadas públicas irão acender os passos dos transeuntes. Levanto-me e vou até à caixa. A empregada, lentamente, move o corpo. Depois mexe nos botões da máquina registadora e diz-me: “Três euros e trinta”, “Na semana passada, para o mesmo consumo, paguei dois euros e pouco!”, “Faça queixa ao governo”, engulo a surpresa e tiro a carteira do casaco.

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