terça-feira, 31 de janeiro de 2012

SUGESTÂO


Sentados a uma mesa da taberna A Catedral, o jornalista Santiago Zavala conversa com o seu amigo Ambrosio. Estamos em Lima, na época ditatorial do general Manuel A. Odría (1948-1956), e dessa conversa acompanhada de cerveja emerge um Peru cruel, corrupto, desesperançado, matéria-prima ideal, portanto, para um romance que só um grande jornalista e escritor como Vargas Llosa poderia ter produzido.

Uma história esplêndida que reúne muitos dos ingredientes que fizeram a fama do autor peruano - as críticas ácidas, a irreverência, a rebeldia e o humor sarcástico.

Conversa n’A Catedral é a crónica de uma ditadura e da resistência possível graças à palavra. Uma aguda reflexão sobre a identidade latino-americana e sobre a perda da liberdade.

Um romance que, mais do que um marco na carreira literária do autor, é um ponto de referência inevitável na história da literatura universal.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

QUARTO


Os furos da persiana deixam passar os tiros do sol. Dentro do quarto, a escuridão mistura-se com eles. Parece que os ingredientes da penumbra dançam no espaço. Porém, pouco depois, um corpo rasga a pista com um movimento. Aguço o olhar e vejo a mão do meu coração, “Bom dia, amor. Dormiste bem?”, e aprendo a sorrir.

domingo, 29 de janeiro de 2012

NÂO

O corpo está deitado. A máscara do oxigénio tapa o rosto da moribunda, mas as minhas mãos destapam a terra que chora rios. Ajoelho-me, agarro-lhe nas mãos e coloco-as no meu peito: “Não deixes que as lágrimas caem na desilusão, porque a porta da morte não merece ajuda”, “Amo-te, querido”, olho para o mar que se passeia no chão e peço-lhe para não a levar.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

MENTIR

Mentir continua a ser a melhor maneira de preservar o que é doloroso na verdade.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

AREIA

A areia guarda o rasto dos teus pés, assim como os vestígios dum sexo embriagado pelo calor e perturbação do entardecer.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TASCA

"Um dia, tenho a certeza, não terei forças para me reconciliar com o mundo, nem vontade para regressar ao local onde nasci", "Bebe. A ressaca dos dias irá passar", e o errante bebe até sentir a almofada no rosto.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

ESCRITÓRIO

Sento-me à mesa de trabalho. Inclino a cabeça para a memória dos livros que li e amei e abro a mão. Com um gesto de ave pouso-a sobre o papel. E do meu interior, saem palavras: "Era uma vez..."

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

FÁCIL


Fecho os olhos e deixo que os meus lábios se agarrem a uma brisa do paraíso.

domingo, 22 de janeiro de 2012

REFORMAS


LEMBRA-TE,
Para lá das paredes deste quarto, na vasta noite do mar, existe uma ilha. É um lugar seguro para os barcos e para as lágrimas da alma. Hoje, todavia, estou seco como uma folha que se baloiça na pensão do Outono.
Saio. Fecho a porta e atravesso a solidão. Dentro da sala de estar, as emoções são cartões-de-visita. Ao pé da cascata, que é um tipo bojudo, daqueles que arrebentam camas sem reforços nas ilhargas, sento-me e peço um café, “Acha que sobrevivo com trezentos euros de reforma?”, e a voz sai-lhe. Parece um isco a procurar um conforto, “Nem com ginástica…”, “O fígado leva-me um terço e a sinusite outro tanto. O restante é para a sopa”, “A sopa não pode ter muita cenoura, pois não?”, tento arrastá-lo para outras margens, “Lá, lá, lá, lá. O senhor é um castiço”, “Leio muita comédia”, “Se isso faz bem, preciso que me receite uma tonelada”, subitamente, um homem dá um grito. Nem os trovões berram assim, “A reforma não me dá para os gastos! O que vai ser de mim?!”, “Mais um!”, “Coitadinho!”, “Peça à morte que se apresse!”, “Coitadinho!”, “Acham que dez mil euros dão para sobreviver?”, e o silêncio agarra-se às bocas.
Lá fora, nas ruas e nos largos, uma luminosidade diáfana coalha, suavemente, nas mãos antigas das mulheres. Vou para o pé delas. Gosto de as ouvir, porque as cicatrizes do cansaço contam estórias de cavaleiros que empurraram montanhas e me ensinam que a felicidade plena conquista-se com a força dos braços.
Quando a madrugada serpenteia a ilha, cubro o bojudo e peço ao vento que lhe traga uma estrela com dinheiro.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SUGESTÃO


nova edição, revista, de um dos mais originais e famosos romances de Mario Vargas Llosa.
A Tia Julia e o Escrevedor é um dos livros mais originais de Vargas Llosa. Conta a história de Varguitas, um jovem peruano com ambições literárias que se apaixona por uma tia com quase o dobro da sua idade. Em paralelo a esse romance proibido, na Lima dos anos cinquenta, Varguitas conhece Pedro Camacho, autor excêntrico de radionovelas cujos enredos mirabolantes fascinam os peruanos. As novelas vão muito bem, até ao dia em que Pedro Camacho, sobrecarregado, começa a confundir enredos e personagens. E, ao mesmo tempo, o romance entre Varguitas e a tia Julia é descoberto pela família.
Ironia e romance em doses perfeitas, memórias autobiográficas e criação literária magistral fazem deste livro um clássico da literatura contemporânea.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

TASCA


A noite desce e crava-se ma cidade. O murmúrio dos homens, lentamente, engrossa o silêncio. As aves fecham-se nas árvores e repousam o cansaço, enquanto os olhos dos candeeiros incendeiam as ruas e as praças. Desço a rua, assobiando. Antes que o passeio ladeie dois edifícios esquisitos, entro numa tasca. Sento-me e peço meio frango com arroz. Como demora, leio um livro do Al Berto, “O senhor já leu o Kafka”, afasto os olhos das palavras e olho para um velho muito velho que me chupa a concentração, “Tem certeza?”, “Tenho”, “Gosta?”, “Nunca li, mas quero lê-lo”, “Amanhã empresto-lhe a Metamorfose”, “Agradecido”, e bebe o vinho pela garrafa.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

VENCER O INFERNO


Excelentíssimo e digníssimo inferno,
Não nos tens poupado. Um pouco por todo o mundo, as tuas mãos sarapintam as montanhas e os vales com tempestades altas ou com incêndios que devastam sorrisos; um pouco por todo o mundo, os teus suspiros gelam cidades e vilas e matam corações que já viveram décadas. Mas as nossas vontades ultrapassarão tudo o que construíres, porque a força humana é uma mão que chega aos cabelos das nuvens. Nunca nos vencerás.
Assinado: o desígnio de vencer.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

E-BOOK (download gratuito)


Doze escritores, dois músicos e um ilustrador escolheram “estórias” de Paulo Kellerman e criaram as suas próprias versões. O resultado é “Kellerman Remixed”, um novo e-book com a assinatura dos 15 convidados e de Paulo Kellerman, que não pára de associar novas dimensões à sua escrita.

“Pedi-lhes para escolherem o que quisessem no meu blogue e fazerem o que desejassem; ou seja, pedi-lhes que criassem as suas próprias versões das minhas estórias”, explica o escritor de Leiria.

A intenção foi aplicar à obra de Kellerman o mesmo que acontece na música, quando alguém pega num original e o transforma noutro objeto artístico:

“Foi basicamente aplicar à literatura o conceito musical de remistura, em que se entrega uma canção a alguém que se admira para que essa pessoa a recrie de acordo com o seu próprio conceito artístico”.

O e-book contém essas 15 versões e a maioria das “estórias” originais que estiveram na sua origem. “Kellerman Remixed” tem a assinatura de António Cova, António Martinho, David Teles Ferreira, Fernando José Rodrigues, Licínio Florêncio, Luís Mourão, Luísa Marques da Silva, Micael Sousa, Nélson Brites, Paulo Assim, Pedro Miguel, Sílvia Alves, Sílvio Silva, Simão Vieira e Wilson Gorj.

http://www.regiaodeleiria.pt/blog/2012/01/14/kellerman-remixed/ (o download é gratuito)

domingo, 15 de janeiro de 2012

OBRIGADO

A noite avança. Por detrás dela vem um corpo. Esse corpo pertence-me. Mas a mente é mais nova do que aquela carcaça. Junto a ele está um mar de pessoas. Abraçam-no e desejam-lhe felicidades. Como ele não fala, ela fala: “Obrigado, amigos. Hoje percebi que tenho o coração cheio de abraços!”

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

OLHOS

A cama do vizinho faz uns barulhos esquisitos; os gatos mordem o sossego; os lobos uivam e os cães pedem comida. Os meus olhos, cobertos de escuridão, recebem a anarquia e afastam-se do sono. Malditos! Vou ter que os chicotear.

CARTA AOS PEIXES

Boa tarde, caros concidadãos do mistério
É certo que a crise espalha horrores nas pedras com memória, é certo que o tempo já não é o que era, é certo que as tuas palavras estão mais esculpidas, mais refinadas, mas também é certo que os teus dedos não podem tropeçar no sono da inércia, porque o comodismo é um demónio que te suga o sentido das palavras. Foge. Não olhes para trás. Diz ao futuro que queres encontrar-te com o desígnio.
cumprimentos,
A luz do teu pensamento.

SUGESTÂO


Al Berto desapareceu em 13 de Junho de 1997, no mesmo dia e na mesma cidade em que outro poeta, a quem dedicou um texto n' O Anjo Mudo, nascera, no ano de 1888, Fernando Pessoa.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

AUSÊNCIA

Não há nada mais triste do que a ausência.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

LÁGRIMAS

Talvez as lágrimas não sejam mais do que isso: o alívio duma ofensa.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

SIMPLICIDADE


Cobro-me com a manta do dia, onde o inverno é uma lembrança do verão. É um gesto simples, banal, mas não lhe sugo a essência. Não tenho tempo para perceber que a simplicidade ocupa esse espaço. Sigo. Dentro da fábrica, fecho a porta e não quero que ninguém me chateie.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

DA TARDE PARA A NOITE


Levanto-me e saio para a rua. Caminho na chuva adocicada da tarde. As pedras reconhecem-me. Paro. Numa mancha de gasoina preparo o fogo. Um pássaro esvoaça sobre o mar e as últimas silhuetas da noite sentam-se na fogueira. Uma voz líquida arrasta-se de súbito das sombras, "Posso estender-me ao sol?", "Somos todos filhos do mesmo pai. Por isso és meu irmão. Não vejo como não te aceitar", e dormimos aconchegados a um sorriso.

sábado, 7 de janeiro de 2012

E-BOOK


Está quase a sair. Espero que gostem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

SUGESTÃO


«Um romance histórico inovador. Personagem principal, o Convento de Mafra. O escritor aparta-se da descrição engessada, privilegiando a caracterização de uma época. Segue o estilo: "Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido". Tudo, "era uma vez...". Logo a começar por "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa a até hoje ainda não emprenhou (...). Depois, a sobressair, essa espantosa personagem, Blimunda, ao encontro de Baltasar. Milhares de léguas andou Blimundo, e o romance correu mundo, na escrita e na ópera (numa adaptação do compositor italiano Azio Corghi). Para a nossa memória ficam essas duas personagens inesquecíveis, um Sete Sóis e o outro Sete Luas, a passearem o seu amor pelo Portugal violento e inquisitorial dos tristes tempos do rei D. João V.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

VENCEDOR DO PRÉMIO D. DINIS

http://www.casademateus.com/actividades_dinis.htm

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

LEMBRA-TE

Sai da cama. Tira o pijama e veste roupa para andar no dia. Não vale a pena estar triste. Todas as histórias, todas as mortes, acabam por se apagar. Acredita. Sai da cama. Vai divertir-te com os braços do sol.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

VEM

Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: "Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite."

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ADEUS

A noite cai numa terra que fez parte do ano passado. As estrelas, esses olhos desconhecidos, mostram-me as saudades que tenho do passado. Adeus, caro amigo. Adormece com os deuses.