"heróis do mar...", grita o meu vizinho, no andar de cima, enquanto que a sua mulher cospe-lhe uns impropérios como gente grande. São um casal esquisito, porque as gritarias são a única forma de amarem o invisível. Mas quem sou eu para lhes criticar os gestos? A democracia baloiça por aí, é certo, mas não podemos meter... a colher nos defeitos dos outros, quando as nossas sujidades transbordam misérias. "...nobre povo...", continua o desgrenhado a berrar, "Seu filho do diabo, vai trabalhar que bem precisas", atiça-lhe a metade do seu desassossego.
"Contra os canhões, marchar, marchar", e depois atira um vivas para a República, como se fossem beijos muito húmidos, "Vai trabalhar, seu grande bói", "Irei a correr, mas antes vou ao escrutínio colocar a minha sugestão", "Ah, está bem", sinto-a cuspir para o chão, "Olha, escolhe o B. O tipo parece ser de ferro".
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