segunda-feira, 4 de abril de 2011

Paraíso


Calcorreio as memórias da cidade, com a corcunda a pensar na noite. Porém, pouco antes de pisar a Praça do Município, onde o púlpito lança regras, as minhas pernas encostam-se ao vidro de uma agência de viagens, "Olha, o paraíso!", murmuro suavemente, "Tu és o paraíso, caro amigo", arregalo a melancolia e perscruto a rua. Junto ao deserto, que está nas minhas costas, encontro um amigo,"Os teus olhos estão cheios de defeitos e de qualidades, como é natural. Mas a tua alma vive no céu", penteia o cabelo encaracolado com os dedos grossos, "Não penses que os outros são o mundo e que tu és a porta, porque na verdade tu és o universo e os outros são a desgraça", sorrio e mexo os dedos com genica, como sentisse pudor a fervilhar na emoção, "Não tenho palavras", "Eu também não tenho sentimentos para te descrever", e abraçamo-nos que nem os anjos.

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