terça-feira, 20 de julho de 2010

A eloquência da língua esquisita


A esplanada está cheia de palavras diversas. Muitas delas não são mais do que desconhecimentos para os meus ouvidos, porque implicam uma língua com características muito específicas, muito peculiares, oriundas de pensamentos antagónicos à minha rua. E por isso, a elas, arregalo a minha coscuvilhice, desprendendo-me do tudo colorido que olha o céu de olhos fechados e que estende os membros como lagartos ao sol. Fico assim até surgirem eternidades, rodadas nos ponteiros do relógio que nunca se atrasa e nunca se adianta, estendido naquela parede com sombras, sem nada acrescentar ao nada ou ao vazio do conhecimento, conforme os apetites de cada um.
Com a cabeça cheia de palavras para colocar no romance que escrevo, esse texto com muitas palavras pintadas em papel morto – que já foi vivo, quando era uma árvore – abandono o que é dos outros e ergo a verticalidade. Aí, nesse profícuo à locomoção, despejo as moedas que pagam a despesa em cima do plástico, pintado num vermelho muito aguerrido, e depois viro-me com a eloquência de uma bailarina. Mas antes de iniciar os primeiros passos, os que falavam pelo esdrúxulo transformam a língua em algo que conheço. Viro-me, olho-os e vejo que são portugueses. Enfim, manias.

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