terça-feira, 13 de julho de 2010

Quando o paraíso és tu


Sinto a noite fresca, arrebitada por bofetadas que o vento dá nas folhas das árvores. Em baixo, junto às pedras com musgo, apenas os meus passos, acompanhados pelos do meu pai, rompem a solidão dos inertes, porque a cidade está no sonho dos moribundos.
São da três da manhã e hoje o meu pai faz anos (é como se fosse um somatório constante que faz arrebitar qualquer cabeça grisalha). Mas ele está calmo, alheio à plantação de velas no bolo com creme de chocolate, que comemos em três dentadas não faz minutos, embora o brilhozinho dos olhos me indicam alguma tristeza.
“Pai, estás bem?”, lanço-lhe um sorriso, “Não podia estar melhor. Faço anos, tenho saúde e tu estás aqui”, não me olha, “E o resultado da soma?”, pára e eu paro de seguida. Olha-me com aqueles olhos de cor de mel, muito sedutores, e por fim, “Indica-me que subi mais um degrau, na aproximação da porta do choro. Contra isso não podemos lutar. E também não quereria, caso fosse possível, porque quem te tem, tem o paraíso”.

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