quarta-feira, 29 de junho de 2011

GARGALHADAS


A felicidade circula no ar, porque as gargalhadas dos transeuntes empastam a nuvem anárquica. Porém, um homem carrancudo, de barbas que se esticam até aos pés, sacode à paulada a onda positiva, “Não te vejo os dentes, meu!”, “Retira a infelicidade da boca”, “A vida é curta para te amarrares à escuridão”, dizem-lhe os desconhecidos. Com o mar a salpicar os fundos, o homem pára e limpa a testa com um lenço branco, “O que tens, homem?”, uma mulher, de corpo volumoso, pergunta-lhe suavemente, “Não me sinto bem”, “Seja qual for o motivo, não deves permitir que ele se apodere dos teus gestos”, “Achas?”, “Claro que acho”, e alarga muito os olhos, abanando os braços como uma louca, “Tens que lhe cortar o fogo”, “Como faço isso?”, “Abraça-me”, pouco depois, o bulício das gargalhadas é ensurdecedor.

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