terça-feira, 28 de junho de 2011

RISCO BRANCO


Os sentimentos estão no forno do inferno, porque nesta terra dos mortos vivos não posso levar a chave do sol. Mas o esqueleto amedrontado rasga o silêncio do burgo, como se o meu corpo fosse a lei suprema. Na fronteira entre o construído e as mãos da floresta, descansa uma pequena praça. Dentro dela, duas criaturas sem olhos resmungam afirmações, “Acredita, o gajo abandonou o berço com meninos”, “A sério?”, “É verdade. O tipo saliva amor para o ventre e depois desaparece. Nem mais nem menos”, “Meu Deus, morte ao gajo! E a desnutrida?”, “Chora que nem uma louca”, “Pudera”, “Quem me dera que um raio cuspisse insónias para o tratante”, ao fundo, junto à linha do adeus, um risco branco cai do céu.

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