quinta-feira, 30 de junho de 2011

O SOL QUE PONTAPEIA


A tempestade de beijos morde o ignoto, que é um velho sem dentes, “És lindo pai. Não há ninguém no mundo como tu”, “Tenho o corpo que nem uma casca de árvore, rapaz”, “A beleza não está nas rugas”, a montanha ergue os braços para o céu, “Para mim, o paraíso descobre-se no motor com sentimentos. Como o teu respira amabilidades imaculadas, és perfeito”, o maduro cospe uns sorrisos, “Perfeito mas com defeitos”, “Quem não os tem?”, um rapaz com dedos pintados à maluco invade subitamente a sala de espera do hospital, “O meu velho é um tinhoso! Devia engasgar-se com o ódio”, “No momento seguinte irás chorar a perda, rapaz. Seja qual for a causa do desacato, as mãos devem estar sempre entrelaçadas”, o esquisito pára o ímpeto e pousa as mãos na anca, “Não peças ao divino a morte, porque quem te deu a vida merece apenas mimos desmesurados”, “Mas, mas…”, “Deixa a saliva com diabo no balde dos tubarões, rapaz”, e o choro troveja dentro das paredes, “Gosto tanto do meu papá!”, “Ainda bem!”, mas o sol pontapeia as nuvens injectadas de veneno.

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