terça-feira, 7 de setembro de 2010

O bicho dos hábitos


Em todas as veredas da cidade, os olhos dos morenos acariciam o chão empedrado, arrastando os corpos desiludidos. Debruço-me na soleira da janela, arreganhando o ouvido coscuvilheiro e fitando-os como um detective, assim que navegam próximo do meu aconchego. Pouco depois, uma velha desdentada, a cheirar a flores e a retirar pedrinhas pequeninas do cabelo, encosta-se na árvore centenária, mesmo ao meu pé, “A retirar piolhos, vizinha?”, lanço-lhe ironicamente, cuspindo-lhe com um sorriso, “Estou a retirar o hábito das duas últimas semanas”, e chora como se fosse morrer.

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