segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A noite das gargalhadas


Quando a noite morde o dia, as luzes e luzinhas acendem-se com opulência. Ao mesmo tempo, do outro lado da margem, na terra recalcada pela história, começa um combate medieval. Guerreiros e cavalos esgrimam uma ficção quase real dos primitivos, enquanto que as donzelas, peito para a frente, correm como dementes para as ervas altas.
Aos meus lados, um grande mar de algas come o fundo empapado de pó e esconde as barraquinhas com petiscos do céu, que eu não paro de as olhar. “Mata o cabrão!”, estremeço pelo súbito, desferido por uma voz grossa ao meu ouvido direito. Digo adeus ao fumegar dos deuses, com um pequeno desgosto a roçar nos lábios, e cravo o olhar no malvado. Este, de dedo a escarafunchar as aberturas do nariz e de balão proeminente, faz saltar palavras que não lembra ao diabo. Encarquilho uma fúria nas fuças e abro a boca para o colocar no respeito. Mas, pouco antes do som da minha voz rasgar o ar, o tipo arrota, “Aquele caralho nunca mais morre”, e toda a gente desata às gargalhadas malucas.

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