terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Mentira


Pressinto uma dificuldade nos teus lábios, nos teus gestos e nos teus medos de errar a pergunta que te fiz. Pressinto uma eloquência camuflada de me compreender as minhas humildes opiniões. E sorrio pela tua timidez envergonhada de me contar o teu gelo de saber, de me contar a tua verdade – que eu ao longe pressinto o cheiro enfurecido –, naturalmente fechado numa fraca especulação. Mas, como num sopro de coração que surge sem avisar ou sem ser devidamente autorizado, a indefinição move-se para a minha verdade, formulada por premissas intermitentes escarradas da tua voz esverdeada, como se um adolescente morasse nessa casa, depois da presença das tuas palavras ribombar na sala dos espelhos. Fico irritado pela certeza, enfurecido e estremeço pela mentira vociferada gratuitamente, assim, mesmo a quem te acolhe de coração aberto, mesmo a quem chora pelo teu desgosto, pela desilusão de um não seco pregado por alguém verdadeiro.
E penso que o mundo esconde as verdadeiras cicatrizes numa mentira.

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