terça-feira, 15 de setembro de 2009

Os Gestos


Cercada por uma bruma amarelecida, a alvorada cresce amorfa e fria, no término de uma linha distante e intocável. E o azul do céu dissolve-se nos braços coloridos, desferidos pelo seu crescimento, e na cidade sombras fantasmagóricas diminuem a sua elasticidade, projectadas nos edifícios e nas árvores, como sonhos de vampiros a recolherem aos aposentos almofadados.
Entretanto, os gritos dos despertadores estremecem com o silêncio imaculado. Deles surgem outros ainda mais agudos, ainda mais pesarosos. Mas o relógio escorrega para o próximo número e o eventual atraso encrava-se na verdade como verdade. “Não posso, tenho que ir”, pressente-se na trovoada das afirmações que ecoam no vento.
Pouco depois, já a alvorada vive a adolescência na plenitude, as formigas proliferam em cada esquina, em cada pedaço de circulação e a cidade vive mais a palavra.

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