segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SUGESTÃO

Um amigo procura outro amigo.Sua trajetória: hotéis de luxo e bordéis, hospitais, jesuitas. Local: Índia. Ao texto da procura do amigo, Tabucchi escreve um subtexto no qual o leitor é remetido a outros escritores cujo imaginário escolhe o mesmo local: "A realidade passada é sempre menos má do que foi efetivamente: a memória é uma formidável falsária. Certas contaminações são feitas, mesmo sem querer. Hotéis assim povoam a nossa imaginação: já os encontramos nos livros de Conrad ou de Maugham, em algum filme americano extraído dos romances de Kipling ou de Bromfield: parecem-nos quase familiares." Estaria Tabucchi tentando afirmar que o texto qualquer que seja, já viria como que "contaminado" por outros textos? Que ao tentar criar algo, nos deparamos sempre com o já criado? Tabucchi leva o leitor consigo nessa busca, nesse universo em que a escrita faz do personagem o seu duplo.Um clima de sono desperto, uma procura sem respostas:"A substância é que nesse livro eu sou alguém que se perdeu na Índia... Há um outro que está me procurando, mas eu não tenho nenhuma intenção de me deixar encontrar." Ao leitor que espera surpresas, prossegue e pergunta, melhor seria fechar o livro e esperar que as respostas surjam depois do livro fechado - cumprida a narrativa, só nos resta imaginar.

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