segunda-feira, 6 de agosto de 2012

PROMONTÓRIOS

“Quero-te beijar os promontórios”, foi a frase que ouvi, quando coloquei o cansaço no parque da cidade, onde as crianças namoram com os baloiços e os velhos jogam cartas. Ao pé destas massas alegres estão sempre os pardais, de olhitos a mirar o pão que cai lentamente na relva, “Quero-te beijar os promontórios”, espreito. Por detrás de uma oliveira estão dois adolescentes abraçados. As bocas, tremeliquentas, percorrem os corpos em êxtase, “Quero-te beijar os promontórios”, “Aqui não”, “Anda lá”, “Não insistas”, “Anda lá”, “Que raio de rapaz!”, e as mãos do desesperado apoderam-se dos peitos da menina, “Aqui não. Aqui não”, “Anda lá”, “Não”, e este último não, que foi um gemido poderoso, a roçar a violência, obriga-o a cair na tristeza como quem cai numa poça. Os olhos da donzela, aflitos, ficam com remorsos. É então que do céu vem um enorme dilúvio, ideal para varrer maus pensamentos.

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