sexta-feira, 10 de agosto de 2012

GRITOS

Estou dentro de um armazém. O calor, de peito feito, assa-me com vivacidade. A solidão, escondida por toda a área, não abre uma janela para me ajudar. É preciso que a lucidez me indique o caminho da saída. A amizade, aquela que tem o brilho da verdade na sua essência, só se entrega a quem ajuda, a quem oferece a mão ao homem mais decadente, ao homem mais errante, ou então à coisa mais fascinante, que neste caso, é a algo que se prende a mim com unhas e dentes. Por vezes, o inesperado é maior do que o mundo, é maior do que o previsto. De volta à rua, onde os pássaros espreitam os lanches dos homens, sacudo as gotas de suor que me inundam os vincos da testa. A tarde, porém, esconde-se no meio da noite e dá à fresquidão a oportunidade de refrescar as vozes entristecidas. De súbito, ao pé dos bombeiros, um adolescente grita: “Fogo! Fogo! As casas do Magalhães estão em perigo!”, ao ouvi-lo, os tanques de água saem do edifício e correm na direcção do monte. O Zé, de palito nos dentes, coça a careca e faz uma pergunta: “E se fosse a minha casa?”, observo-o e encarquilho o rosto.

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