sexta-feira, 27 de julho de 2012

O TEU DIA

O dia cresce e os nervos aumentam. Quase que tocam no absurdo. Mas tudo é desculpável, tudo, porque amanhã, pela manhã, o véu estará encastrado naquela cabeça, que agora só diz disparates, só vocifera, só amua, e nos olha como se fosse o cano de uma espingarda. A mãe, coitada, anda perdida no meio da cozinha e esquece-se de tudo. O pai, a sorrir, está a fumar e a olhar o horizonte. Talvez esteja a esgravatar na terra dos anjos uma lucidez que o oriente, que lhe diga que o fato tem de ter uma gravata. A brilhantina a lamber o cabelo fica ao critério, pelo menos o avião, que acentua a linha que divide o céu e a terra, é apologista disso. As irmãs, sentadas no tanque de pedra, abanam as pernas e dizem anedotas. Por vezes cantam músicas conhecidas e dizem coisas de adolescentes. Ao pé delas, de braços cruzados, estou a escrever na memória um texto para o teu dia. Mas apenas me surge esta frase: “Faz da união uma Primavera, um beijo que te ajudará em tudo.”

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