sábado, 12 de maio de 2012

SOL

O sol fugiu. Escondeu-se no meio das mãos pardacentas que as nuvens lançam ao azul do céu. A cidade, a deambular com tristeza, perde a profundidade das cores e o brilho dos olhos. Mas a vivacidade volta a pintar as ruas quando o sol descobre um rasgo na brutalidade, “Ninguém o entende”, “Pois, o governo parece maluco!”, “Não me refiro a isso, homem!”, “Então?”, “Ao tempo”, “Ah!”, dois homens de meia-idade, sentados a dois palmos da igreja, olham para a fila que, a passos lentos, entra na junta de freguesia com intuito de receber um carimbo. Uma nova exigência do centro do emprego, “Faz chuva. A seguir faz sol. O tempo está como a economia: maluco”, “É uma palavra meiga”, “Não me venha com palavrões”, “Está tudo fodido”, “Podia ter sido pior”, o zumbido pousa no silêncio. O lugar, taciturno, embora os pensamentos dos desempregados façam grandes barulhos, pelo menos é o que me dizem os seus olhos, vai mergulhando nas malhas da desilusão.

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