quarta-feira, 2 de maio de 2012

DESÍGNIO

A noite avança. As estrelas, sossegadas, rasgam a monotonia da bruma. Nos candeeiros públicos não há luzes. A austeridade obrigou a autarquia a minimizar os gastos. Coisas de quem tem os bolsos descosidos. Ligo a lanterna e desço as escadas. Está frio. Com os pés no empedrado, ouço um barulho ténue, frágil. Olho para todos os lados e apenas vejo o silêncio a mordiscar a paisagem. Porém, pouco depois, os senhores dos galinheiros assobiam uma melodia erudita. Dão à alvorada um motivo para crescer. Há quem precise de empurrões, de palmadinhas amigas para fugir da inércia. Entretanto, no meio do horizonte, surge o corpo de um avião. É pouco maior de que um ponto cravado numa folha. Apuro o olhar e observo-o como se observasse o meu desígnio.

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