terça-feira, 3 de abril de 2012

NOITE

Perto dos objectos minúsculos, o crepúsculo é engolido pela noite. Da varanda do meu apartamento, que está a três pisos de altura do pavimento asfáltico, assisto ao acontecimento. O gesto, executado pela natureza, obriga-me a recordar os gestos dos homens. Mas quando as estrelas se acendem, os flagelos dissolvem-se no brilho dos meus olhos. Quase ao mesmo tempo, os candeeiros que estão presos às fachadas dos prédios iluminam os movimentos da solidão, que desce calmamente pela rua. Movo o olhar e espio-o. Sem que nada fizesse prever, a tristeza recorda-me o dia em que a minha amada morreu. Ao recuar até à tragédia, as fontes dos sentimentos enchem-se de dilúvios. Os regos do rosto, incapazes de orientar a emoção, ficam submersos. Isso permite à aflição penetrar na minha pele. Para não a ter como companheira, varro o pensamento e limpo a humidade.

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