terça-feira, 11 de outubro de 2011

TEXTO JUVENIL

A minha avó, com a boca a soprar impaciências, empurra a cama articulada até ao sofá. Quando ela o sente nas pernas, ela larga os ferros e deita-se sobre ele, da mesma forma que o banhista se atira ao mar.
- Estou bem, netinho, mas o meu corpo está numa lástima. Nem sinto os ossos – diz-me a minha avó.
Sob a lareira castanha, coloco os últimos toros de madeira. De seguida, com movimentos bastante precisos, varro o lixo do chão para o apanhador e despejo-o dentro do saco plástico, quando não existe no soalho mais nada para varrer.
- Também tenho o corpo numa desgraça – digo-lhes, pousando no tapete os instrumentos de limpeza. – Todos os meus ossos resmungam. Parece que eles estão numa feira.
- Esta juventude não sabe o que é trabalhar – boceja o meu avô. – Com menos idade do que tu, eu trabalhava que nem os escravos. E nunca me cansava. Parecia uma máquina!
- Mas as máquinas também avariam, Zé. E a tua, aos fins-de-semana, estava sempre de rastos.
- Não estejas sempre a resmungar comigo, Tina. Puxa! Um santo ao teu pé não descansa!

Sem comentários:

Enviar um comentário