terça-feira, 2 de agosto de 2011

AVÓ


Enquanto escrevo este texto, a minha avó cheira o computador, “Ui, que coisa complicada! E faz barulho e tudo. Também fala?”, rasgo o rosto com gargalhadas, como se rasgasse as nuvens com o sol, “Só fala se eu lhe mandar”, “O tipo é bonzinho, sim senhor. Obediente”, fecha o fecho e abraça o silêncio. Porém, pouco depois, ela volta às palavras, “E quando arranjas uma namorada? És o neto mais velho e menos despachado. Não podes continuar assim, rapaz”, “As palavras não são compatíveis com namoradas”, “A sério? Hum! Isso quer dizer que não me vais dar netos?”, coloco o olhar nos fundos da cozinha e desfaço-me novamente em gargalhadas, “Quando ela aparecer, avó. Não pode ser uma qualquer”, “Claro. Tem que ser assim”, agarra-me no braço direito, “Mas tem cuidado. Elas agora andam malucas”, “Achas, avozinha?”, “Acho: andam todas descapotáveis. Parecem frutas sem roupa”, “Ó avó”, “Promete-me que terás cuidado”, “Prometo”, “Lindo netinho, lindo netinho”, levanta-se, dá-me um beijo e diz-me adeus.

2 comentários:

  1. Parabéns, Silvio. Além de me fazer sorrir esse texto me deixou com uma imensa saudade de minha avó. As avós e seus conselhos... Abraços!

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  2. Obrigado, elaise...é fantástico ter avó...

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