quarta-feira, 4 de maio de 2011

No avião



Tenho os pés nas nuvens e os olhos na terra, “Apertem os cintos, senhores passageiros”, tiro o olhar da janela e amarro-me ao banco de tecido, usando os segredos dos pescadores. Pouco depois, o focinho da máquina inclina-se, como se detectasse um objecto que não pode conviver com os sorrisos do céu, “Sinto-me um pouco enjoado”, viro-me e vejo uma mulher quase morta, pois a sua pele é uma folha de papel. A caixa abana agressivamente, “É desta que vou morrer. Mas eu não quero”, uma criança sorri, colocando os dentes amarelos na primeira fila do ringue, “Estamos quase a chegar”, grita alguém impaciente. Quase no mesmo instante, as rodas pousam na língua preta, “Estou salva, estou salva. Obrigada”, e beija um Santo.

Sem comentários:

Enviar um comentário