quarta-feira, 23 de março de 2011

A porta do desgosto


"O telefone nunca estremece. Não sei o que se passa", "Ó meu, tem calma. O que importa é teres saúde e amigos", "Pois, é verdade", "Já te basta as chatices da crise, companheiro", o Zé desliza o olhar para a cerâmica, enquanto engole o café fumegante, "A frontalidade deveria ser obrigatório nos lábios", "Gosto da tua boca", digo-lhe, acariciando-lhe a tristeza. Sorrimos vagamente, mas ele sacode-a no momento seguinte, "Bem, vou-me embora. Preciso conversar com a almofada. Tenho muita coisa para matutar", "Segue o teu instinto, meu. Estarei aqui para o que for preciso", atira-me um sorriso ténue, ao mesmo tempo que iça o desgosto, "Precisas de largar a má onda", "Cheguei aos meus limites", "Eu sei, Zé, eu sei", "Bem, vou-me embora. Fica bem", "Tu também", vira o negrume e caminha até à porta. Abre-a e sai, "Tenho que o ajudar. Ele não pode continuar assim", engulo o café e corro.

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