terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A idade do fim


Não há agora dia que não apareça um velhinho estendido num canto qualquer, com as moscas varejas a digladiarem-se pela posse da carcaça, como se fossem abutres do deserto. A família, essa casta do diabo, quando lhe cheira a herança, aparece a vociferar direitos e a resmungar com veemência para a memória velha, uma vez que não os avisou das dores que sentia. Porém, no mesmo instante em que as câmaras desligam a luz do directo, "Maria, vai ao quarto e traz as jóias, enquanto entretenho os jornalistas", "E o corpo?", "Quero lá saber do velho ranhoso. Nunca nos ajudou a pagar as contas", "É verdade, é verdade", e desaparece, abanando os quadris como uma fufa.

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