Quando a aurora perfura a janela, o cãozinho malhado, de orelhitas arrebitadas e de cauda a mastigar o silêncio, atira-se para o meu corpo, que ainda se despede da fada madrinha. Mas assim que os meus olhos casam com os objectos do quarto, a bola de pêlo lambe-me veementemente o rosto, como se eu fosse um doce com muita carne, “Então menino, vamos lá acalmar”, e empurro-o com a delicadeza de uma donzela para o sobrado. Esbraceja, esgadanha, mas acaba por sossegar. Bufo um finalmente, limpando o cansaço da testa, ao mesmo tempo que o meu corpo desliza de novo para a almofada. Aí, refastelado como um leão ao sol, vejo o jornal com baba a roçar-me a perna esquerda, “Que bom companheiro!”, e sorrio uma emoção.
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