quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Simplesmente não te quero


No computador, o cursor estanca o último mistério da personagem principal, porque o cansaço apodera-se dos meus dedos. Sacudo o vermelhão dos olhos e, quando o bulício do frigorífico me beija o silêncio, vejo que o escritório engaiola a penumbra. E é por ela passear nestes limites, sem aviso prévio, que um bocejo salta do meu corpo esfomeado de descanso.
Já na cama, a respirar o calor que se evapora do tijolo das paredes, a minha vizinha do piso superior arremessa subitamente a afirmação, “Não te quero ver mais, seu palhaço. És pior do que um rato”, acendo a orelha, “Mas querida, eu perguntei aquilo para esclarecer as minhas dúvidas. Penso que não há necessidade de morder o exagero”, diz uma voz quase apagada, “E mais a mais, ficas a saber que eu tenho um amante”, “O quê?”, e adormeço quando o modernismo esbarra na minha compreensão.

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