quinta-feira, 12 de agosto de 2010

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EMÍLIA FERREIRA - CARTOGRAFIA ÍNTIMA

Nasceu em Lisboa, em 1963. Licenciada em Filosofia (FLUL). Mestre em História da Arte Contemporânea, (FCSH/UNL) e doutoranda em História da Arte (FCSH/UNL). Começou a publicar em 1987, tendo colaborado com O Jornal, Público, o suplemento DNA (do Diário de Notícias) e revista MID. Tem ainda colaborações dispersas pelas revistas Seara Nova, Escritores, Faces de Eva, Margens e Confluências, Casa & Jardim e Rua Larga.Na ficção, tem dois romances publicados: O Espelho Que Reflecte (Prémio de Poesia e Ficção de Almada, 1998) e No princípio do mundo, uma tâmara (Prémio Literário Vasco Branco, Câmara Municipal de Aveiro, 2001). Recebeu ainda as seguintes menções honrosas com as colectâneas de contos Obsessões Exemplares (menção honrosa no Prémio Nacional do Conto Manuel da Fonseca, 2004) e Visões do Azul (menção honrosa no Prémio Literário Carlos de Oliveira, 2004). Outros prémios: Prémio Literário Afonso Duarte 2007/2008 (com uma monografia sobre Mily Possoz); Prémio Literário Branquinho da Fonseca – Conto Fantástico, 2007; Prémio Literário Almeida Firmino, 1996; III Edição do Prémio Literário 25 de Abril, 1994.


No meio do caminho, Helena recupera o corpo de mais uma cicatriz, quase fatal - o coração que falha… mas revive. É então altura de lembrar as suas idades, o convívio contido com a mãe, Eduarda, a distância atenta com a filha, Matilde, mas, sobretudo, o convívio com a avó, Beatriz, lembrando dela que a pele não deve chegar intocada à última morada. E Helena viveu: primeiro, dividida entre uma amizade de infância e um casamento de conveniência, que oficializa metida dentro de um vestido inacabado, derradeira maldição da amiga Mariana, que assim vinga a sua sexualidade interrompida. Depois, dividida entre a obediência à tradição familiar, governada pelo verbo «manter», e o desejo de marcar na pele uma vida adiada, longe da clausura, que até então apenas pôde entrever durante uma viagem pela Europa, na adolescência. Helena acolhe agora a vida plenamente, entregando a pele à experiência verdadeira do amor, das coisas mais simples que se havia negado, até que a doença ameaça a sua vida e o seu coração. Perto do destino final, há oportunidade de redimir a rivalidade entre Helena e Mariana com um vestido perfeito, fechado, e cumprir assim o destino que a cada uma pertence… agora, mas não tarde de mais. Cartografia Íntima é notável ao percorrer quatro gerações para encenar o retrato de uma mulher em transformação, procurando, no desenho do seu íntimo, a essência da intuição e psique femininas. O desencontro de amor, o destino pessoal e a tragédia de uma doença grave, sem ressentimentos, sem uma percepção fatalista, são temas fulcrais donde as personagens emergem com uma dimensão verdadeiramente humana e rara na literatura portuguesa contemporânea.

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