terça-feira, 17 de agosto de 2010

A câmara que filma


No jardim da cidade, o reboliço cresce desmesuramente porque um microfone e uma câmara de filmar, com um símbolo muito florido, poda os olhares azedos ou os olhares estremunhados, que passeiam a manhã em passos trôpegos. Ao bulício interrogador, que faz desaparecer os verdes verdejantes, os senhores do poder, assentes em bicos de pés, constroem o palco do mundo como se fossem a nata imaculada de um sonho.

A uma distância segura, rastejo o corpo sobre uma cadeira desconfortável, que abraça uma esplanada cheia até aos dentes. Embora sinto os pares de olhos a perscrutarem o enredo da magote, com os lábios a morderem o café em chávenas muito descosidas da verdade iniciada, o cheiro daqueles senhores é consumido com uma certa indiferença.

Quando pouso a chávena amarrada na solidão, as luzes acendem-se, a câmara lança um pontinho vermelho muito fininho na nossa direcção e os comentadores atiram palavras com sabor. No seguimento, as cabeças iletradas esbracejam a brutalidade, "Ó mãe, estou aqui".

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