quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Criador de Morte


Dentro do corpo velho que suspira terrivelmente nas ruas lamacentas, as horas passam como cortes de navalhas pelo silêncio do telefone. Das brechas, ainda impregnadas pelo cheiro da lâmina, corre um manancial de nostalgias: de imagens a preto, carregadas de abraços a uma mulher macia e lasciva e de paisagens deslumbrantes, associadas ao Douro. Solta-se um aguaceiro de sentimentos pelo passeio pavoroso, escondido pela sombra do chapéu enterrado na nuca. E as horas, persistentes, ausentes das construções dos suicídios, florescem a cada sessenta minutos. E o telefone sempre vazio de vozes ou de palavras que o amarrem aos respiros na terra.
Num dos limites da cidade, o precipício do silêncio sente-o no aconchego da sua cama.
O telefone sempre vazio.

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