terça-feira, 22 de setembro de 2009

Indicadores dos Inícios


A noite estava coberta por um perfume tépido; desgovernado perante a longevidade da estação quente. O vento era apenas uma miragem, uma bruma coberta de sonho. E na rua, os contornos dos transeuntes, torneados pelo ginásio, deambulavam despidos pelos passeios, de sorrisos largos estampados nos rostos, como se fossem íntimos do calor ternurento borrifado pela felicidade.
Na mesma proporção, rodeado de um velho hábito português, chegava ao pequeno adro do Cine-Teatro de Vila do Conde atrasado para o concerto, enrolado em partículas de transpiração. O meu companheiro, velho amigo, era uma figura decadente, um derrotado pelo esforço, com um respirar diabólico. Muito próximo de um eclipse vivencial. Sim, é verdade, não poderei evoluir com a omissão, eu também não estava em melhores condições.
Mas, por entre sinfonias aflitas, o meu olhar desgarrava a aflição e, de sobranceiras agudas, dirigia-o para o murmurinho que evoluía na atmosfera, como a fumaça de um cigarro. E, como uma câmara pachorrenta, a magote surgia sob o véu, unida e concentrada às palavras.
O estranho estranha-se fundo, bem fundo, e surge a dúvida pela minha certeza. Olho para o relógio, gosto das certezas, e verifico que as verdades dos cartazes são meros indicadores dos inícios.

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