quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Praça dos Desencantos


A praça está repleta de presenças humanas, estendidas pelos bancos envernizados há dias. Palram diabolicamente sobre nadas, sorrindo e gesticulando muito, como fantoches descosidos. Ao lado, os miúdos histéricos deambulam por entre loucuras.
Eu, taciturno, aprecio os movimentos que se desenrolam, sem palavras a correrem-me no silêncio dos pensamentos, fitando-os de alto a baixo.
De súbito, um casal de idade próxima da extinção aproxima-se, acorrentados ao ombro do outro. Trazem o luto vestido, provavelmente de um cordeiro amigo ou familiar, mas os rostos transparecem uma alegria tímida. Alguns passos mais param e arquejam pelo desgaste dos movimentos. Estão exaustos.
Todas as palavras continuam a vaguear na indiferença dos contextos alheios, continuam fechadas ao abraço do vizinho. E nem os apelos mudos dos olhares os movem para a vitória social. Levanto-me, aproximo-me e, junto deles, de braço dado, levo-os ao paraíso dos beijos.

3 comentários:

  1. Sim, senhor. Uma descrição encantadora da Praça dos Desencantos.





    Jinhos.

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  2. lolo...obrigado. É necessário varrer os flagelos...lolol

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  3. ... Como se o nome de uma Praça tivesse o poder de contagiar
    Quem está e quem passa...
    Soturno aquele que desenrola palavras soltas...

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