sexta-feira, 14 de agosto de 2009

"As Palavras são Armas que nos Matam"


Tento fingir, mas bloqueio no primeiro movimento da mentira. Estranho-me, olho-me como se faltasse alguma coisa no corpo ou como se tivesse a olhar para um estranho, demasiado defeituoso para ser possível a sua existência, e pergunto-me “porque não consigo entrar na sala dos habituais cânones?”. Volto a tentar, mas a mesma barreira surge-me como resposta.
Hoje precisava de mentir e de não transparecer a minha verdade; hoje a minha voz deveria seguir os trilhos enviesados da precisão. Apenas hoje, apenas um dia, o suficiente para abrir o sucesso infinito.
Na reunião, à hora marcada, transformo o meu sentimento em palavras. E os indivíduos taciturnos, sentados defronte, ouvem-me com o despego visível. Continuo e finjo que não os percebo.
Por fim, deixo-me descair para a cadeira e arrumo os meus papéis. Estou vazio, não tenho mais nada a dizer.
Silêncio na sala, por entre as palavras proferidas pelos olhares dos indivíduos. Pouco depois, desfazem a algazarra e olham-me de olhos desfigurados. E nesse estado tresloucado enviam-me as seguintes palavras: “as palavras são armas que nos matam”.

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