segunda-feira, 23 de julho de 2012

MODA

As asas saem-me das costas com violência e levam-me até ao café do alto, onde as roupas da moda, desenhadas pelos senhores de Itália, esticam a preguiça todas as noites. Não tenho nada para mostrar, não tenho palavras ocas para dizer, mas estou curioso em conhecer a praça do prazer porque a cidade não fala de outra coisa. Quando entro no rectângulo, vejo gente vestida como nos filmes de ficção científica, a abrir muito a boca, a mover muito os braços, a mexer muito as pernas. Peço um café a um empregado franzino, que tem o cabelo às cores, enquanto pouso os cotovelos no balcão. Alguém me diz, a medo, que o gesto não é bonito. Perco o sorriso e engelho o rosto. Mas o cheiro do café diz-me para ter calma. Agarro então na colher e movo o líquido escuro, “Pst! Pst!”, olho para a direita. Perto de mim vejo a origem da aflição, “O que deseja?”, pergunto ao velho bojudo, “O senhor tem uma roupa esquisita! Quem a desenhou?”, “A loja da esquina. Aquela que ladeia a tasca do Manel, “Pobre! E que falta de gosto!”, e foge. O dono do café, homem forte e elegante, aproxima-se das minhas orelhas. A fotografia que saiu no jornal do burgo é fiel à anatomia. Pouso a chávena e aguço-as, porque o janota abre a boca: “Você não está na moda! Devia de ter vergonha”, “Sinto-me bem com esta roupa”, “As pessoas, no entanto, não têm a mesma opinião”, “Pouco me importa a opinião dos outros”, depois de uma pausa, o elegante chama dois gorilas, “Não é preciso incomodar-se”, deixo uma moeda sobre o balcão e desapareço. Aquele espaço, cheio de futilidades, é uma sombra no meio do escuro.

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