segunda-feira, 2 de julho de 2012

CREPÚSCULO

O calor pontapeia-me o corpo. Destrói-me o discernimento. E por isso perco a coerência. Mas o lombo das montanhas, que recortam o horizonte em ziguezague, dizem-me para me encostar às sombras. É o que faço quando encontro eucaliptos a salpicar o rosto. Pelo menos é o que me pareceu o conjunto de pedras sobre o cume na altura em que percorria o vale. Adormeço. A meio das brumas vejo os romanos a empurrarem pedras gigantes com a força dos braços. Hoje, todas as máquinas do mundo, todas as cabeças do mundo, não ergueriam a mesma história, a mesma paisagem, a mesma civilização. Na retaguarda dos músculos estão os senhores, os arquitectos e os filósofos. Atrás destes está a comida. O mar de fruta constrói uma serenidade, embora surja, por vezes, uma onda maldita. Talvez a irregularidade do caminho, que é largo e extenso, possa ser a causa dessa brusquidão. Acordo. Ao fundo, o céu está vermelho. É um vermelho desbotado, porque a noite vai escondendo o crepúsculo.

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