quarta-feira, 27 de junho de 2012

TELEFONE

O telefone atira para a sala um grito. É um barulho forte, rouco, que me faz estremecer, que me faz perceber que o silêncio é um engano, uma mentira, porque a sua essência altera-se conforme as necessidades ou apetites de qualquer coisa. Atendo. Do outro lado surge uma voz pacífica, um pouco filosófica quando as palavras voam na direcção da política. No meio da memória descubro que é o meu pai que fala. Sorrio, “Estás bem?”, “Nem por isso, filho. Mas é normal: a conjectura…”, “E a mãe?”, interrompo-lhe, “Está com saudades tuas, claro”, e as lágrimas saltam-me dos olhos como se imitassem a água das cascatas, como se fugissem da tristeza, “Também tenho saudades dela, e tuas”, e prometemos que no próximo sábado iremos abraçar os corpos com afinco.

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